Plantas tropicais podem ser mais adaptáveis do que se pensava em relação às mudanças em padrões de precipitação, uma das possíveis conseqüências do aquecimento global. A afirmação é de um estudo realizado nos Estados Unidos que será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).
Os pesquisadores descobriram que plantas no Havaí têm capacidade de se adaptar a grandes mudanças no regime de chuvas em pelo menos um importante aspecto: a maneira de adquirir nutrientes. As plantas necessitam de uma forma específica de nigrogênio em áreas úmidas. Nos terrenos encharcados que caracterizam algumas florestas tropicais, no entanto, elas acabam se voltando para outra forma de nitrogênio mais disponível nessas condições. O estudo destaca uma importante exceção para a idéia normalmente aceita de que as plantas tropicais são altamente especializadas em seus nichos ambientais específicos e, portanto, muito sensíveis a distúrbios em tais locais.
A troca do alvo de nutrientes pode ser positiva para as plantas, uma vez que mudanças climáticas poderão alterar radicalmente os padrões de chuvas nos trópicos. Mas os pesquisadores apontam um porém: o acesso a nutrientes é apenas um dos ingredientes da vida vegetal. Outras alterações que acompanhem um clima mais quente podem afetar a distribuição e o crescimento das plantas, como as que ocorreriam com polinizadores, insetos, predadores ou plantas invasivas. “Essas plantas deverão ser capazes de se manter bem em termos de aquisição de nitrogênio, mesmo com a mudança climática”, disse um dos autores do estudo, Ted Schuur, professor de ecologia da Universidade da Flórida. “Mas é importante destacar que só estudamos um grupo de organismos e um mecanismo. As plantas dependem de vários fatores para sobreviver, alguns dos quais podem ser alterados com mudanças no regime de chuvas.
Os cientistas pesquisaram o crecimento de plantas em seis locais nas encostas do monte Haleakalal, um vulcão na ilha de Mauí, no Havaí. Os locais foram considerados ideais para o estudo por compartilhar praticamente as mesmas espécies vegetais, elevações e solos, mas apresentar regimes de chuvas bem diferentes uns dos outros. O local mais chuvoso tem cerca de 5 metros de precipitação por ano, contra apenas 2 metros da área mais seca. “Essa é a faixa de precipitação encontrada por todos os trópicos, mas geralmente em locais separados por centenas ou milhares de quilômetros. No Havaí, pudemos visitar todas as florestas analisadas em um único dia”, disse Schuur.
(Agência Fapesp, 08/05/2007)