As Nações Unidas dizem que biocombustíveis, como etanol, podem ajudar bastante a reduzir o aquecimento global e criar empregos para os pobres das regiões rurais, mas advertem que os benefícios poderão ser eliminados por problemas ambientais graves e uma elevação no preço de alimentos para os mais famintos.
Em seu primeiro grande relatório sobre bioenergia, as Nações Unidas tentam equilibrar o entusiasmo com os biocombustíveis, chamando atenção para seus possíveis efeitos prejudiciais. O relatório sai poucos dias depois de uma conferência sobre mudança climática em Bangcoc ter dito que o mundo tem os meios para evitar que o aquecimento global atinja níveis catastróficos.
Os biocombustíveis, que podem ser feitos de cana-de-açúcar, milho, dendê e outros produtos agrícolas, têm sido vistos por muitos como uma forma mais limpa e barata de suprir as necessidade energéticas do mundo, sem a queima de combustíveis fósseis.
Líderes europeus já decidiram que pelo menos 10% do combustível consumido no bloco virá de fontes biológicas, como o etanol, até 2020, e os Estados Unidos trabalham numa proposta para multiplicar a produção de biocombustíveis por sete, até 2022. Com o preço do petróleo chegando a níveis recorde, os biocombustíveis tornaram-se uma alternativa atraente.
Mas ambientalistas já advertiram que a "corrida do ouro" para os biocombustíveis poderá causar muito mais dano ao meio ambiente que os combustíveis fósseis - preocupação refletida no relatório, divulgado em Nova York por um consórcio de 20 agências e programas das Nações Unidas.
O texto reconhece que a bioenergia representa uma "oportunidade extraordinária" para redução das emissões de gases do efeito estufa. Mas alerta que "o crescimento rápido da produção líquida de biocombustíveis colocará demandas substanciais sobre os recursos mundiais de terra e água, num momento em que a demanda por alimento e produtos florestais também se eleva rapidamente".
Mudanças no conteúdo de carbono dos solos e nos estoques de carbono em florestas e charcos poderão eliminar parte ou todo o benefício do biocombustível em termos de redução do efeito estufa, diz o relatório.
"O uso de monoculturas em larga escala poderá levar a perda significativa de biodiversidade, erosão do solo e sangria de nutrientes", afirma o texto, acrescentando que os investimentos em bioenergia devem ser administrados cuidadosamente, em escala nacional, regional e local, para evitar que problemas sociais e ambientais "alguns dos quais poderão ter conseqüências irreversíveis".
O relatório constata que a demanda crescente por óleo de palmeira já levou à eliminação de florestas tropicais no sudeste asiático. A eliminação das selvas pode resultar em emissões de gases ainda maiores que as geradas por combustíveis fósseis.
Além disso, a destinação de terras antes usadas para plantar comida para o plantio de combustível elevará o preço da comida e de mercadorias básicas, impondo uma nova carga aos pobres do mundo. E, embora as plantações de biocombustível tenham o potencial de melhorar a renda em áreas rurais, esse é um tipo de produção que favorece a agricultura em larga escala, o que pode levar á eliminação de pequenas propriedades. O texto sugere a formação de cooperativas e subsídios oficiais para manter os pequenos fazendeiros no negócio.
(Associated Press, 08/05/2007)