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rio dos sinos
2007-05-08

Não fosse por um equívoco geográfico, o nome do nosso Estado seria Lagoa Grande do Sul. Fascinados com a foz da Lagoa dos Patos, no Atlântico, os portugueses chamaram de Rio Grande a primeira povoação que fundaram ali, em 1737, dando origem ao nome do território. Desde então, nossa história se confunde com a de nossas águas. Nesta série, que será publicada toda terça-feira até o Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho, ZH guiará uma viagem pelos rios grandes do Sul. Mais do que um retrato de gigantes como Uruguai e Jacuí, o itinerário é um alerta: das 575 milhões de toneladas de esgoto produzidas todo mês no Estado, 90% vão para os rios, sem tratamento. Hoje, você conhecerá o símbolo mais contundente do efeito da degradação: o Sinos.

Acostumados à turbidez da própria vida, eles parecem conformados com a deterioração. Ouviram falar dos projetos que prometem salvar o cenário da mortandade de cem toneladas de peixe, das promessas que proliferam após a tragédia. Torcem para que dêem certo, mas seguem em meio ao esgoto que corre no Rio dos Sinos.

Sete meses depois do desastre ambiental, nada mudou. Os ribeirinhos assistem de perto ao que a maioria das 1,3 milhão de pessoas abastecidas pelas águas do Sinos só vê pela TV: águas barrentas que carregam resíduos de 32 municípios e quase um terço das indústrias do Estado continuam propícias a novas mortandades. O desastre é cotidiano, mas a maioria dos usuários só lembra da poluição que castiga o rio quando a água da torneira tem cor ou cheiro. Para retirar os resíduos da água captada em Esteio, uma das regiões mais contaminadas do rio, a Companhia Riograndense de Saneamento gasta cinco a seis vezes mais com produtos químicos do que para tratar a água captada em Santo Antônio da Patrulha. Conseguem tirar os resíduos, mas o gosto fica.

É na mesma água que os irmãos Jeniffer Schmidt, 12 anos, Cristiano, sete anos, e Diego, seis anos, mergulhavam no sábado à tarde. Rostos sujos, cabelos grudados pelo lodo, os três se refrescavam no Sinos. Moradores de uma vila próxima, eles se conformavam com a única piscina que a vida lhes deu direito.

- Não tem importância que é sujo, é bom aqui - resignava-se o menino.

A mãe, Tatiane Schmidt, 31 anos, observava os filhos de longe:

- A gente sempre vem aqui e nunca aconteceu nada, não tem perigo.

Longe das crianças, as águas barrentas se moviam vagarosas, ao compasso das remadas do pescador João Roque da Silveira, 63 anos, um dos últimos profissionais que ainda pescam no Sinos. Antes da mortandade, Silveira conseguia tirar até 200 jundiás num dia. Hoje, tira 20. A renda caiu de R$ 400 por semana para R$ 50. Não pensa em desistir:

- Nasci aqui e quero morrer aqui.

Comunidade se mobiliza para salvar a fonte d'água
A mortandade entristece, mas não surpreende. Silveira sabe que o problema é crônico, todo mundo ali sabe. Apesar da preocupação com o lixo químico, é o resíduo doméstico o maior poluidor. Apenas 6% do esgoto da bacia é tratado. Ironicamente, o Rio dos Sinos é um dos que têm melhor rede de proteção. O Comitê Sinos, responsável pelo gerenciamento da bacia, é o mais antigo do país.

Depois da catástrofe, os dirigentes políticos garantem que a situação vai mudar. Prefeitos criaram um consórcio para articular projetos de saneamento. O governo do Estado enviou um projeto de R$ 520 milhões ao governo federal, em busca de financiamento para tratamento de esgoto nas bacias do Gravataí e do Sinos.

- Não adianta só debater. Agora há recursos do governo federal, só que os municípios precisam construir projetos. Vamos dar assessoria para isso - afirma o secretário estadual da Habitação, Saneamento e Desenvolvimento Urbano, Marco Alba.

Enquanto os investimentos não chegam, a comunidade se mobiliza. Um projeto do Instituto Martim Pescador, de São Leopoldo, pretende lançar no rio 1 milhão de peixes em três anos. Nascidas com menos de 3 milímetros, as larvas crescem em um açude alimentado com águas do rio, para aprender a conviver com a adversidade que as espera.

- Esse é o nosso rio, e vamos recuperá-lo. Não é para agora, é para as futuras gerações - confia o presidente do Martin Pescador, Henrique Prieto.

Do luto das águas, surge uma esperança. Mas o cenário ainda é turvo.

Águas testemunharam revolta de escravos no século 19
Os gaúchos se acostumaram a lembrar do Rio dos Sinos como berço da colonização alemã, em 1824. Mas, não fosse uma revolta de escravos anos antes, talvez a história fosse outra. Segundo o historiador Telmo Lauro Müller, diretor do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, no início do século 19, os portugueses mantinham ali uma feitoria com 321 escravos, que produziam linho-cânhamo para confecção de velas e cordas dos barcos. Em livro publicado em 1923, Leopoldo Petry explica o motivo: "Os escravos tornaram-se de dia a dia mais indolentes e insubmissos, chegando a ponto a sua anarquia que atacaram e assassinaram barbaramente um dos capatazes: é que a real feitoria ficava longe da cidade, onde se fizesse sentir a autoridade do governo, e rodeada de intermináveis matos, onde os criminosos podiam facilmente refugiar-se".

Após o episódio, o governo mandou os escravos para o Rio de Janeiro. O abandono da região abriu caminho para o povoamento dos alemães, após a Proclamação da República.

Entre curvas e lendas
Não há consenso sobre a origem do nome Sinos. A hipótese mais provável, segundo Müller, é de que seria derivado do latim sinus, devido a seu formato sinuoso, cheio de curvas. Mas também havia uma lenda de que, naquele tempo, tesouros teriam afundado no fundo das águas, e em certas noites, ouvia-se o bimbalhar de sinos, anunciando riquezas que os jesuítas teriam ali jogado ou escondido.
(Por Leticia Duarte, Zero Hora, 08/05/2007)


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