O capitalismo demonstrou ser ambiental e socialmente insustentável, por isso a prosperidade futura deverá surgir de um novo modelo econômico, afirmam alguns especialistas. O “como” é matéria de intenso debate. Uma corrente afirma que o crescimento contínuo é compatível com o meio ambiente se forem adotadas tecnologias mais limpas e eficientes e se as economias deixarem paulatinamente de elaborar bens materiais para passar aos serviços. A isto dão o nome de prosperidade sustentável.
Instrumentos internacionais destinados a atacar problemas globais, como o buraco da camada de ozônio e o aquecimento global, adotaram princípios de mercado para conseguir o cumprimento pelo setor privado. No entanto, o problema é que “consumimos 25% mais do que a Terra pode nos dar por ano”, afirma William Rees, da Escola de Planejamento Comunitário e Regional da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá.
Rees e outros estudiosos calcularam que o consumo humano de recursos naturais excede, a cada ano, em 25% a capacidade da natureza em regenerá-los, uma proporção que cresce desde 1984, primeiro ano em que a humanidade passou essa marca. “Nosso planeta precisa de um capital natural, como árvores, para proporcionar serviços como água e ar puros, dos quais dependemos”, disse em uma entrevista Rees, que é um dos criadores da “pegada ecológica”, um indicador para conhecer a quantidade de território produtivo que uma determinada população humana necessita para obter recursos e para que seus resíduos sejam absorvidos.
"O capitalismo se baseia no acúmulo de riqueza pelo consumo de recursos naturais cuja disponibilidade é limitada", afirmou Rees. "Também estamos excedendo a capacidade do planeta em absorver poluição e resíduos, como as emissões de dióxido de carbono vinculadas à mudança climática. Os economistas de mercado não falam de contaminação, mas de 'externalidades' que raramente incluem como fator em seus modelos econômicos", ressaltou o especialista.
Por isso, a prosperidade sustentável é o uso global de recursos e a geração de dejetos que não superem a capacidade regenerativa do planeta. Igualmente importante é a dimensão social: "a verdadeira prosperidade só é possível quando a diferença entre as rendas de ricos e pobres é pequena", disse Rees. Entretanto, “os executivos dos Estados Unidos ganham entre 500 e mil vezes mais do que os trabalhadores de outras categorias e essa desigualdade está se agravando”, garantiu. Se todos vivessem como os norte-americanos, seriam necessários cinco planetas para proporcionar os recursos exigidos, segundo o Living Planet Report 2006, do Fundo Mundial para a Natureza.
A solução não está em mais tecnologias limpas e eficientes. "As sociedades industriais já usam os recursos de modo mais eficiente do que as nações em desenvolvimento, mas consomem muitos mais bens materiais e, portanto, mais recursos naturais", estimou Rees. A seu ver, os novos mantras - consumo de produtos orgânicos ou elaborados de modo sustentável e a desmaterialização das economias (gerar serviços, mais do que produtos) - não resolvem nada. "A única solução é reduzir a poluição e o uso de recursos", afirmou. “Toda esta conversa sobre sustentabilidade significa que não queremos realmente mudar o que fazemos”, ressaltou Ress.
"As compras responsáveis ou a responsabilidade social corporativa não farão muita diferença", coincidiu o ecologista Brian Czech, presidente do Centro para o Avanço de uma Economia de Fase Estável, um instituto de estudos com sede em Washington. “Temos de reduzir nosso crescimento econômico para nos estabilizarmos”, acrescentou. A maioria das nações em desenvolvimento precisa crescer, e os países ricos têm de reduzir seu uso de recursos para que isso ocorra, acrescentou. "A idéia de que o crescimento contínuo pode se sustentar graças à desmaterialização não tem sentido", disse Czech.
Produzir serviços requer usar recursos naturais como energia, e o dinheiro gerado será usado para comprar algo. “Os economistas neoclássicos do Banco Mundial e da Agência para o Desenvolvimento Internacional, dos Estados Unidos, entre outros, continuam acreditando que não há limites para o crescimento”, disse Czech. "É preciso redefinir o êxito econômico: em lugar de aumentar a riqueza, aumentar o bem-estar", afirmou Nic Marks, diretor do Centro para o Bem-Estar da Fundação Nova Economia, com sede em Londres. "O governo britânico reconheceu que a economia deve caber em um único planeta e que já estamos além de seus meios", disse Marks.
“Entretanto, é politicamente insustentável dizer que o caminho é um crescimento econômico menor”, prosseguiu. "Portanto, um crescimento mais verde, mais limpo e desmaterializado é a solução, junto com importantes reduções no uso dos recursos", disse Marks. O empresário norte-americano Peter Barns considera que o capitalismo deve passar da exploração de recursos naturais, como o ar e a água, para protegê-los como bens comuns da humanidade. Estes “fideicomissos da riqueza natural” seriam todos os seres humanos, que teriam poder para limitar o uso de recursos escassos, impor tributos e distribuir dividendos, afirma em seu livro Capitalismo 3.0.
Barnes imagina um mundo com muitos protetores de ecossistemas, administrados por pessoas que estarão proibidas de atuar em seu próprio interesse e só poderão fazê-lo em representação dos interesses dos cidadãos e das gerações futuras por igual. “Nem o governo nem as corporações representam as necessidades das gerações futuras, dos ecossistemas e das espécies não humanas. Os fideicomissos podem fazê-lo”, diz em seu livro.
(Por Stephen Leahy,
IPS, 07/05/2007)