Com a demissão decidida no dia 27 de abril, a então secretária estadual do Meio Ambiente, Vera Callegaro, resistiu mais uma semana no cargo por pelo menos dois motivos: o receio da governadora Yeda Crusius em magoar a amiga de 30 anos e o esforço em corrigir o erro que selou sua saída do governo.
Após um jantar de Yeda com a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) no dia 24 de abril, a bióloga começou a cair. Na capital paulista, empresários do grupo Votorantim e da Aracruz reclamaram que o licenciamento ambiental estava prejudicado e ameaçaram abandonar investimentos no Estado. A governadora ficou furiosa.
A causa do entrave a licenças ambientais era um aditamento ao Termo de Ajustamento de Conduta, assinado pelo então presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Irineu Schneider, no dia 19 de abril. O documento foi o estopim da crise.
Yeda cobrou uma explicação da subordinada em jantar oferecido ao ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, na noite do dia 26 de abril, no Palácio Piratini.
- Tu sabias da assinatura, Vera? - teria questionado a governadora.
Pressionada, Vera teria dito:
- É. Sabia.
No dia 27, a governadora autorizou pelo menos dois secretários a sondar o procurador de Justiça Carlos Otaviano Brenner de Moraes. No dia 28 de abril, secretários, um ex-governador e um ex-procurador do Estado ligaram para convencê-lo a aceitar o convite.
Vera se mexia para evitar a queda. Na sexta-feira (4/5), enviou ao MP um pedido de revisão do aditamento para tentar reverter o estrago. Na tarde de 2 de maio, reuniu-se com o procurador-geral de Justiça do Estado, Mauro Renner, e empenhou-se em garantir a mudança. Segundo Vera, Yeda também batalhou pela aprovação e conversou com Renner.
- Tivemos um apoio muito grande do MP. Atenderam aos pedidos da governadora - comemorava Vera, um dia antes de deixar o posto.
Indagada se Schneider assinara o aditamento à revelia, disse:
- Conversamos sobre a questão. Ainda não tínhamos decidido. Depois que ele assinou, fiquei sabendo.
Nem a amizade seguraria a secretária. Havia quem previsse a queda na segunda-feira. A surpresa foi ter ocorrido na sexta-feira à noite, um dia depois de Yeda participar do aniversário de Vera. Alegando a necessidade de se submeter no dia 14 a uma cirurgia, sobre a qual não revela detalhes, Vera deixou o cargo.
(Zero Hora, 06/05/2007)