De um lado, uma natureza exuberante e quase inexplorada; de outro, pessoas que nunca tiveram outro ofício que não o da pesca. O cenário desse impasse é do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, situado nos municípios de Mostardas e Tavares. Entretanto, 16 famílias de pescadores que já viviam no local antes da criação da unidade de conservação deverão deixar a área. A tarefa de retirá-las é do Ibama, que precisa enfrentar a burocracia e a falta de recursos.
Ao total, são 170 pescadores que têm licença excepcional e provisória do Ibama para pescar no parque, sendo que 50 vivem no local. Para retirá-los de lá, é necessário indenizá-los, desapropriando a área. Com o risco da gripe aviária, o Ibama tenta fazer a conscientização ambiental dos nativos. 'Os pescadores têm contato direto com as aves, pisam nas fezes dos animais, que acabam sendo levadas para as casas e entrando em contato com objetos pessoais', explica a chefe do parque, Maria Tereza Melo. 'A questão não é apenas retirá-los de lá, mas oferecer condições de trabalho', frisa.
Vivendo 25 dos 54 anos de vida junto à Lagoa do Peixe, o pescador Danilo Alcides de Souza viu o parque ser criado. Para deixar a casa em que vive com os dois filhos, ele afirma que só sairia do local se recebesse uma boa oferta. Os moradores reclamam da falta de energia elétrica. Sem conservação adequada, a pesca é vendida por preço irrisório. 'Já cheguei a vender o quilo do camarão a R$ 1,00. Hoje, ele é vendido por R$ 2,00.'
(Correio do Povo, 06/05/2007)