Angola está a dar os primeiros passos para tornar-se um produtor de energia nuclear, maneira encarada pelas autoridades para aumentar de forma decisiva a capacidade energética do país, mas declara rejeitar o desenvolvimento de armas nucleares. “O país tem limitações na produção de energia, então porque não começar-se a pensar em projectos que no futuro possam produzir energia a partir de fontes nucleares?, questionava recentemente o ministro da Ciência e Tecnologia, João Baptista Ngandajina, citado pela Voz da América.
Angola é membro da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) desde 1999 e a designada Lei da Energia Nuclear está agora em finalização e deverá em breve chegar ao Parlamento. Uma vez aprovada, ficam criadas as condições institucionais para a produção de energia nuclear no país, mas o governo vem frisando que a prioridade nos tempos mais próximos serão projectos de investigação e a formação de quadros.
A nova lei, disse Ngandajina , “vai definir tudo sobre aquisição, transporte, uso e armazenamento que quisermos fazer de conhecimentos e equipamentos radioactivos aqui no país”. “O que se pretende aqui é o desenvolvimento científico ligado à energia nuclear. Formação de pessoal, desenvolvimento de projectos que ajudem o desenvolvimento económico e social do país”, afirmou.
Contudo, no sector energético do país circulam rumores de que a iniciativa da Lei está relacionada com a preparação de um plano para instalação de centrais nucleares no país, que conta com o apoio da República Popular da China, importante parceiro de Angola e um dos maiores produtores mundiais de energia nuclear.
A própria China está a avançar com um ambicioso plano de aumento da produção de energia eléctrica a partir de centrais nucleares, que prevê que até 2020 o país atinja uma capacidade instalada de 40 milhões de kilowatts, mais de quatro vezes o valor actual. Questionado pela imprensa, João Baptista Ngandajina adiantou que já foram identificadas no país jazidas de minérios radioactivos, como o urânio, mas escusou-se a revelar em que regiões.
No ano passado, Angola investiu cerca de 650 milhões de dólares em projectos destinados a assegurar o aumento de produção de energia eléctrica, apostando sobretudo no reforço da capacidade da rede e na construção e reforço da capacidade de barragens, para o que tem contado com importantes apoios da China e do Brasil.
Entre os principais projectos em curso, destacam-se as hidroeléctricas de Capanda, cuja terceira turbina, de quatro, entrou recentemente em funcionamento, e das Ganjelas, construída pela empresa chinesa Sino-hydro Corp, que deverá ser entregue durante o mês de Maio.
Para João Baptista Ngandajina, a tónica da tecnologia nuclear em Angola será para já a investigação e desenvolvimento, bem como o fomento de projectos no domínio civil, através da Universidade Agostinho Neto. “Montou-se um laboratório para o ensino da cadeira de física nuclear; neste momento estão a fazer o doutoramento docentes e técnicos do laboratório de análise do Ministério [da Ciência e Tecnologia]. Tudo isso visa capacitar o país para este fim”, disse o ministro angolano.
João Baptista Ngandajina salientou, em particular, a oportunidade apresentada por esta tecnologia para a formação e especialização de médicos do Centro Nacional de Oncologia, e para projectos na área do controlo de doenças em animais e de combate à malária e outras patologias. Actualmente, Angola tem também em curso projectos ligados ao controlo de poluição marítima associada à produção de petróleo, e integra os programas da AIEA para o continente africano.
(Macauhub, 07/05/2007)