Um novo estudo publicado na quinta-feira (03/05) por um grupo internacional de especialistas independentes demonstra que a energia nuclear não é uma opção economicamente viável para o combate ao aquecimento global. O anúncio acontece na semana em que o Painel Intergovernamental de Mudança Climática está reunido para apontar medidas de mitigação para o problema.
O relatório ‘Aspectos econômicos da energia nuclear’, encomendado pelo Greenpeace Internacional, concluiu que a construção de uma usina nuclear pode ultrapassar em 300% seu orçamento inicial e, em média, leva quatro anos a mais para ser construída do que o planejado. O estudo foi feito por especialistas da área econômica da Universidade de Greenwich e de outros órgãos independentes. Mesmo se fosse positiva para o clima, a energia nuclear poderia significar pouco ou nada na luta contra o aquecimento global.
A energia nuclear representa apenas 16% da eletricidade do mundo, e a geração de eletricidade representa apenas um terço da emissão total dos gases do efeito estufa. Para a energia nuclear possuir qualquer efeito no aquecimento global, seria necessário construir no mínimo mil reatores ao redor do planeta. Isso é um cenário completamente irreal, devido aos custos e ameaça à segurança que representaria.
Pesquisas realizadas na União Européia concluem que, quando se observa o ciclo completo da geração nuclear, desde a mineração de urânio até o descomissionamento de usinas, as centrais nucleares emitem cerca de 50% mais gases do efeito estufa do que a energia eólica. “Combater as mudanças climáticas efetivamente significa reduzir as emissões dos gases do efeito estufa em 50% até 2050. Construir mais usinas nucleares serviria apenas para criar mais lixo radioativo, mais alvos suscetíveis ao terrorismo e exigiria mais gastos pesados em subsídios públicos”, afirmou Guilherme Leonardi, coordenador da campanha antinuclear do Greenpeace Brasil.
O relatório examina as causas por trás dos grandes atrasos de projeto e estouros de orçamento, além das preocupações com segurança e confiabilidade, e conclui que: em praticamente todos os países, o custo da construção de usinas nucleares ultrapassou o orçamento; a combinação da necessidade de pesados subsídios, de preços altos pouco competitivos, da pouca confiabilidade e de riscos sérios de atrasos torna a energia nuclear economicamente inviável; preocupações significativas existem com a segurança básica das instalações, com o lixo nuclear e com o descomissionamento de usinas obsoletas.
Segundo o relatório do Greenpeace ‘(R)evolução Energética’, lançado em março, há alternativas muito mais baratas e seguras, como as fontes renováveis e o aumento da eficiência energética. Neste estudo, a organização demonstra que a energia nuclear não pode competir economicamente com outras fontes renováveis.
Uma recente análise do Conselho Mundial de Energia também chegou às mesmas conclusões, mostrando que o tempo médio para se concluir a construção de um reator aumentou de 66 meses nos anos 70 para 116 meses (quase dez anos) entre 95 e 2000. Outro estudo, este do Conselho de Relações Internacionais dos EUA, relata que o país tem 103 reatores operantes que, mesmo com sua vida útil estendida por 20 anos além do planejado, terão que ser descomissionados até a metade deste século. Um novo reator terá que ser construído nos EUA a cada quatro ou cinco meses nos próximos 40 anos para repor os antigos. Um exemplo real deste erro é a construção de um reator de nova geração em Okiluoto, na Finlândia.
(Jornal do Comércio, 05/05/2007)