Ao inaugurar na quinta-feira (03/05), às margens do rio Araguari, em Uberlândia (MG), um complexo formado por duas usinas hidrelétricas em um consórcio liderado pela Vale do Rio Doce, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um enfático discurso contra o setor ambiental ao dizer que a energia hidráulica é a mais barata e que é preciso enfrentar as resistências para investir nas usinas hidrelétricas.
Em claro recado aos ambientalistas --a maioria resistente à energia nuclear--, Lula disse: "Ou nós fazemos as hidrelétricas que temos que fazer, vencendo todos os obstáculos, ou vamos entrar na era da energia nuclear."
Na semana passada, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) se opôs à construção da usina nuclear Angra 3 e defendeu as termelétricas, a energia eólica e a energia solar. Lula, no entanto, criticou as alternativas. Segundo ele, não é possível "tocar o país com energia solar e eólica".
Lula afirmou aos empresários presentes na inauguração que é preciso recorrer a quem quer se seja para obter as licenças ambientais, até mesmo ao papa Bento 16. Estavam presentes o presidente da Vale, Roger Agnelli, e a alta direção do banco Bradesco.
"Então nós não temos escolha, meus caros empresários. Ou nós fazemos o que tem que ser feito (...) E aí nós temos que conversar com o Ministério Público, com as entidades de meio ambiente, com as ONGs, com os tribunais de contas, aproveitar que o papa está vindo aqui e conversar com o papa, porque o Brasil não pode parar por falta de energia."
Os ministérios da Casa Civil e de Minas e Energia, com o apoio do presidente, vêm travando disputa com o Ministério do Meio Ambiente no que diz respeito ao licenciamento de duas usinas hidrelétricas no rio Madeira, em Rondônia.
Marina Silva, que vem sendo pressionada, trocou as chefias de cargos importantes, mas tem afirmado que a legislação e o ambiente serão respeitados.
Antes de o presidente discursar, o presidente da Vale deu a deixa para Lula endurecer o seu discurso. Agnelli citou o complexo que inaugurava como "exemplo cabal de que é possível compatibilizar o desenvolvimento com responsabilidade socioambiental".
O empresário disse ainda que, além da preservação ambiental, o "legado" que se deve deixar é a "riqueza da geração de energia".
"Eu acho que nós deveríamos perseguir isso insistentemente para deixar para as futuras gerações esse legado que será, sem dúvida nenhuma, de extraordinária importância."
Lula endossou o discurso de Agnelli: "Nenhum empresário virá investir se não dermos a certeza de que haverá energia para as indústrias brasileiras e estrangeiras".
Lula defendeu os investimentos em hidrelétricas e em linhas de transmissão para integrar a América do Sul, dizendo que é preciso "enfrentar o problema legal e ambiental".
(Por Paulo Peixoto,
Folha online, 04/05/2007)