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ipcc amazônia
2007-05-06
A previsão do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) divulgado no início do ano é assustadora. Até o fim deste século, a temperatura da Terra pode subir de 1,8ºC até 4ºC. Na pior das previsões, essa alta pode chegar a 6,4°C. O nível dos oceanos vai aumentar de 18 a 59 centímetros até 2100, o que significa que 200 milhões de pessoas terão de abandonar suas casas. Nos ciclones tropicais, a velocidade do vento e as chuvas serão mais intensas. No Brasil, o aquecimento ocorrerá mais intesamente no final deste século, no Centro-Oeste e no Norte, regiões que abrigam a Floresta Amazônica.

"Até o momento, a humanidade não havia enfrentado um problema global desta magnitude", disse o físico Paulo Eduardo Artaxo Netto, da Universidade de São Paulo (USP), especialista em química atmosférica e um dos principais autores de um dos capítulos do relatório do IPCC. Artaxo estará em Campinas, na CPFL, no dia 21 de junho, no seminário internacional sobre aquecimento global, iniciado na última quinta-feira.

O IPCC é formado por um grupo de cientistas escolhidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) com a missão de analisar as mudanças climáticas e traçar cenários futuros.

O professor ressalta que a maior colaboração brasileira com o processo de aquecimento global advém sobretudo das queimadas, ocorridas na própria Floresta Amazônica. Das emissões brasileiras de gases que produzem efeito estufa, 75% são devido a queimadas na Amazônia e somente 25%, industriais e do setor de transporte.

O futuro da floresta está em jogo. "Toda a região sul da floresta Amazônica, na interface entre o cerrado e a floresta em si, Norte do Mato Grosso e Goiás, vai sofrer um processo de savanização muito intenso. As chuvas vão diminuir, a estação seca vai aumentar, o que pode agravar a questão das queimadas, e com isso, o ecossistema deixa de ter capacidade de sustentar uma floresta tropical como nós conhecemos hoje", afirmou.

Artaxo tranqüiliza: ainda dá tempo para impedir que mudanças climáticas perigosas ocorram. Basta reduzir as emissões de gases de efeito estufa, tarefa que não deve estar a cargo apenas dos países desenvolvidos, os maiores emissores, mas também de nações em processo de desenvolvimento, como Brasil, China, Índia. "Mas é preciso agir rápido", alertou. "Nós temos tecnologia disponível e as ferramentas econômicas para mudar esse cenário. Agora, é preciso que todos se engajem para que possamos ter um planeta saudável", completou Karen Suassuna, técnica em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil. O novo relatório divulgado essa semana pelo IPCC confirma que é possível deter as mudanças climáticas e traz uma nova esperança para o cenário assustador que se desenha para o futuro do planeta.

Agência Anhangüera de Notícias - Os cenários traçados pelo IPCC parecem bastante dramáticos. É possível supor que a Terra está condenada?
Paulo Artaxo - Não, de modo algum existe qualquer possibilidade de catástrofe ambiental global. Existe sim, uma crise ambiental climática, que é a oportunidade que a humanidade estava precisando para acordar seriamente para o problema e mudar o padrão de consumo de energia e o desperdício de matérias-primas, que caracterizam a sociedade dos países desenvolvidos, como os Estados Unidos. Para que tenhamos um futuro sustentável, teremos todos que mudar nosso padrão de consumo e isso é possível, viável e positivo a toda a humanidade. No caso brasileiro, reduzir fortemente as emissões de gases de efeito estufa é fundamental ao nosso País.

Alguma vez na história da humanidade as mudanças climáticas chegaram perto de um problema dessa envergadura?
Até o momento, a humanidade não havia enfrentado um problema global desta magnitude. E faltam instrumentos para a ONU e organismos internacionais para lidar com questão tão abrangente e estratégica para nosso futuro. Vai ser um processo de negociação difícil, e é essencial que os países desenvolvidos e também os em desenvolvimento, como China, Índia e Brasil, encontrem um equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade ambiental e climática. Reduzir as emissões de gases de efeito estufa em todos os setores da economia e mudar a matriz energética para energias renováveis, como solar, eólica, pode trazer benefícios ambientais importantes.

Qual o impacto que o cenário apontado pelo IPCC trará para o homem?
O cenário é de que é essencial reduzir o mais rápido possível as emissões de gases de efeito estufa. E também implementar políticas econômicas que priorizem a sustentabilidade do sistema socioeconômico regional e global. O cenário também inclui a construção de uma sociedade que respeite os limites do homem em termos de sua agressão ao meio ambiente, que compartilhamos com todos neste planeta.

É razoável supor que o sistema terrestre venha a sofrer tensões em áreas como abastecimento, equilíbrio ambiental, regime de chuvas?
Sem dúvida, a tensão socioeconômica vai aumentar pela dificuldade que vários países e regiões terão em fornecer água e alimentos à sua população. Em particular, a produção de alimentos pode sofrer profundas alterações nas próximas décadas, inclusive no Brasil. As alterações no padrão de precipitação serão importantes agentes de tensões. O aumento do nível do mar também vai deixar vulneráveis regiões densamente populosas. As ondas de calor no Verão europeu pode trazer uma nova dimensão na mobilização da população européia. Mas os países em desenvolvimento serão os maiores prejudicados, sem dúvida. Eles não têm os mesmos recursos de adaptação que os países desenvolvidos, e terão que pagar uma conta muito alta de um problema que historicamente eles não são os maiores responsáveis.

Já que, no Brasil, a maior parte dos gases de efeito estufa vem das queimadas, parece que seria fácil reverter isso, bastando acabar com as queimadas. Se o País conseguisse isso, traria alguma mudança nos prognósticos do aquecimento global?

Sem dúvida, a maior tarefa que o Brasil tem a realizar é reduzir fortemente as emissões de queimadas na Amazônia. Desmatar uma enorme área de 20 mil quilômetros quadrados por ano é algo que realmente não faz qualquer sentido e todos nós brasileiros somos prejudicados com a falta de atuação do governo na Amazônia. O potencial econômico da biodiversidade Amazônica é enorme e o pior uso que se pode fazer dela é queimá-la e transformar esta biodiversidade em gases de efeito estufa.

O aquecimento global colocou a Amazônia novamente no centro das atenções. A floresta é uma fonte de gás de efeito estufa ou um sumidouro desses gases?
A floresta tem um papel duplo, de absorção de dióxido de carbono pela floresta remanescente, e pela emissão das queimadas. Sem as emissões de queimadas, a Floresta Amazônica realiza um serviço ambiental importante ao planeta. Esta é mais uma razão para que o governo brasileiro estabeleça uma política forte e coerente de redução de desmatamento da Amazônia.

A transformação em pasto pelo fogo já está alterando ciclos vitais da Floresta Amazônica?
Sim, a transformação de 16% da área original da floresta em pastagens já alterou profundamente processos ambientais em algumas regiões da Amazônia, como partes do Estado de Rondônia e Mato Grosso. Parte desta destruição é irreversível. Precisamos urgentemente de uma política que preserve os 84% da floresta que estão de pé. Esta política tem que englobar os governos federal, estaduais e municipais, junto com os agentes econômicos mais importantes, como os madeireiros, o pessoal da agricultura intensiva, os pecuaristas e as ONGs.

Que cenários nós estamos vivenciando no mundo que mostram que as alterações climáticas já estão em curso?
Um enorme número de evidências experimentais comprovam que as mudanças globais não são algo do futuro, mas já estão conosco. Vão desde o derretimento acelerado da Groenlândia ao observado aumento médio global de 0.76 graus centígrados e outros indicadores claros dos processo que estão sendo alterados.

Alteração climática é puramente uma questão de elevação da temperatura?
Não. A elevação da temperatura é um dos indicadores do clima, mas mudanças no padrão de precipitação, aumento do nível do mar, alterações na freqüência de furacões e eventos climáticos extremos e muitos outros indicadores ambientais são importantes.

O senhor acredita que, tanto pela redução das emissões quanto pelo seqüestro de carbono, ainda dá tempo para impedir as interferências climáticas perigosas?
Sim, sem dúvida ainda dá tempo de impedir que mudanças climáticas perigosas ocorram. Mas para isso é necessário agir rápido e de modo intenso, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa e estabilizando as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono e metano. Esta estratégia vai fazer com que possamos ter um futuro onde água e energia sejam bens preciosos que têm que ser usados de modo inteligente e racional. Acredito que em algumas décadas teremos uma sociedade mais responsável em relação aos recursos naturais do planeta.

"Os países em desenvolvimento serão os maiores prejudicados (pelas mudanças climáticas), sem dúvida. Eles não têm os mesmos recursos de adaptação que os países desenvolvidos e terão que pagar uma conta muito alta de um problema que historicamente eles não são os maiores responsáveis."
(Por Maria Teresa Costa, Agência Anhangüera - Último Segundo, 06/05/2007)

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