O agricultor Antônio Lúcio de Souza, de 46 anos, calcula que, na sua fazenda, tenha 30 mil araucárias em 1,4 mil hectares - aproximadamente 2.330 campos de futebol - na localidade de Pericó, em São Joaquim, na Serra Catarinense. Ele admira todas. Mas uma é especial. Antônio era criança quando ouvia o avô falar de uma enorme araucária em meio à floresta de Mata Atlântica, a um quilômetro da sede da fazenda. Quando teve a oportunidade de conhecê-la, ficou apaixonado e decidiu protegê-la para sempre.
O encanto ficou sem dimensão até 2003, quando o pesquisador de araucária Gernot Berger, então residente em Joinville, resolveu catalogar a gigante. Baseado em padrões internacionais de medidas e com o aval de um botânico, estimou a idade da árvore, feminina e da variedade Caiová, em 900 anos.
A altura é de 42 metros, equivalente a um prédio de 14 andares. Neste quesito, perde para outros dois pinheiros, um em Caçador e outro em Campos Novos, com 45 metros cada. Mas ganha de qualquer outro no Brasil em circunferência rente ao solo, com 15,2 metros. Uma fenda aberta ao longo dos anos possibilita a passagem com um cavalo por dentro da árvore..
Acredita-se que esse vão tenha sido ocasionado pelas ações do tempo ou que seja resultado do próprio ser humano. Há muitas décadas, pessoas acendiam fogueiras aos pés das araucárias a fim de queimar o cerne - parte central - para fazer carvão, de onde se tirava a cinza para a fabricar sabão.
O pinheiro serviu de fonte de alimento para os índios Kaingang, Xokleng e Guarani, que habitavam a Serra antes da descoberta do Brasil, em 1500. Eles se alimentavam basicamente do pinhão, e encontravam na região uma diversidade de fauna, o que favorecia a caça e a pesca. Muitas araucárias estão mortas, mas continuam sustentadas pelo grande porte. A gigante de São Joaquim é ainda mais especial: está de pé, bem viva e produzindo alimentos.
(Por Pablo Gomes,
ClicRBS, 03/05/2007)