Um dia depois de dizer "sim, eu fico", a ex-secretária estadual do Meio Ambiente Vera Callegaro explicou ontem (4/5) por que pediu demissão à governadora Yeda Crusius. Às 19h30min, Zero Hora ligou para o telefone celular do reitor da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) e secretário executivo do PSDB, Carlos Callegaro, marido de Vera. O celular da ex-secretária estava desligado.
- A governadora chamou e não sei o que ocorreu. Ela ia me explicar agora. Mas é preciso perguntar para a governadora. Talvez tenha pedido o cargo - disse Carlos.
ZH relatou que o próprio Palácio Piratini havia aconselhado a imprensa a pedir a Vera sua versão dos fatos. Carlos chamou a mulher:
- Zero Hora está dizendo que o palácio disse que tu deves falar. Fala, então.
- Por que eu tenho de falar? - questionou Vera.
Ela acabou atendendo a ZH. A seguir, leia a síntese:
Zero Hora - O que ocorreu entre quinta-feira e ontem para que a senhora tenha pedido demissão 24 horas depois de afirmar que continuaria no cargo?
Vera Callegaro - Apresentei tudo que tinha à governadora, o termo de ajustamento de conduta (TAC), o projeto de reestruturação da secretaria, uma minuta de projeto de lei para criar um zoneamento econômico e ecológico. Passei as programações da Semana do Meio Ambiente. Programamos a criação de um fórum estadual de mudanças climáticas. Passei o Fórum da Mata Atlântica, que eu trouxe para Porto Alegre e vai ocorrer no final do mês. Estou com um probleminha. Terei de sair um tempo. Então, por motivos pessoais, achei que deveria sair agora para descansar um pouco. Terei de fazer uma cirurgia e dar um tempo para ver como fica. Vai ficar interinamente o meu substituto (o diretor-geral, Carlos Breda). Ele dará continuidade. A secretaria já está com um formato que é só implementar ações que deixamos por lá e algumas coisas a fortificar, que estão por vir. Creio que a secretaria irá para a frente.
ZH - Quando a senhora decidiu sair?
Vera - Decidi hoje (ontem) quando levei esse material para ela.Conversamos bastante por duas ou três horas. Temos outros projetos para o futuro.
ZH - Qual o assunto predominante na conversa?
Vera - Sobre a secretaria e como podíamos andar. Ela me solicitou outros trabalhos. Nós decidimos que eu deveria sair da secretaria para dar lugar a outro secretário que deve vir. Interinamente, fica o meu substituto lá.
ZH - Na quinta-feira, a senhora realmente tinha decidido permanecer no comando da secretaria?
Vera - Ontem (quinta-feira), eu ainda estava pensando que estava com dificuldade de equacionar a continuidade. Mas hoje (ontem), conversando com o meu substituto, equacionando a questão da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), decidi por esse caminho, que creio ser o melhor.
ZH - A conversa com a governadora, na sexta-feira, foi fundamental para a senhora tomar essa decisão?
Vera - Sim, porque eu tive a garantia da governadora de que a gente dará continuidade ao trabalho deixado. Haverá alguns projetos futuros que poderemos desenvolver. Assim que eu retornar da cirurgia, vamos conversar novamente.
ZH - Então, foi na reunião da sexta-feira à tarde a decisão da demissão?
Vera - Hoje (ontem), fui lá (ala residencial do Piratini). Almoçamos juntas e passei uma porção de horas com ela. Conversamos bastante.
ZH - Que trabalhos a senhora desenvolverá com Yeda?
Vera - Agora, estamos pensando. Talvez trabalhos na área de ambiente mesmo. Alguns projetos. Mas tudo fora da secretaria.
ZH - A senhora prestará uma assessoria técnica?
Vera - Isso mesmo. Voltaremos a conversar depois da minha cirurgia.
ZH - Que cirurgia será essa?
Vera - Não vou lhe dizer. Isso a gente não divulga. Mas é verdade. Já estou agendada. No dia 14, tu vais me ver lá no Hospital Moinhos de Vento.
ZH - A governadora sugeriu que a senhora cedesse o lugar agora e lhe disse que a senhora continuará sendo útil como assessora?
Vera - Claro. Vou ajudar a governadora e continuar trabalhando com ela. Yeda é minha amiga. É meu partido (PSDB). Sempre trabalhei para ela. Continuaremos trabalhando juntas. Mas fora da secretaria.
ZH - A governadora fez a proposta para a senhora?
Vera - Conversamos, ainda não alinhavamos bem, não definimos bem, mas conversamos sobre essa saída.
ZH - A senhora entregou uma carta de demissão?
Vera - Não. Nem precisa carta. Eu só falei. Basta Yeda formalizar pela Casa Civil.
ZH - A senhora ficou magoada com a situação?
Vera - Não. Isso aí (a demissão) foi um acordo. Eu pedi a ela. Eu dei a solução à governadora.
ZH - Yeda mostrou que o quadro era difícil em razão da insatisfação das empresas florestadoras?
Vera - Não tem nada a ver com empresas. Deixamos pronta a solução. Foi viabilizada a forma de licenciar (os empreendimentos). Deixei a idéia de um projeto de lei, uma minuta para a gente resolver o problema do zoneamento econômico e ecológico. A gente tem de dar continuidade para não ocorrer esse problema da silvicultura.
ZH - Depois da cirurgia, a senhora voltará a trabalhar para o governo?
Vera - Isso mesmo. Vou voltar a conversar com a governadora para ver como posso continuar colaborando.
ZH - Vocês decidiram na hora da reunião?
Vera - Não. Hoje (ontem), decidi porque vi que era melhor esse caminho para nós.
ZH - O que exatamente a governadora lhe disse?
Vera - Yeda disse estar satisfeita por eu já ter dado os encaminhamentos que dei. Espera poder contar comigo no governo porque conhece a minha capacidade técnica na área. Por isso, é muito importante que eu continue colaborando com o governo.
ZH - Ela disse que era melhor a senhora se afastar?
Vera - Não. Fui eu que decidi.
ZH - A senhora decidiu a partir de uma proposta da governadora?
Vera - Eu disse que, no momento, tenho de deixar uma pessoa na secretaria para tocar o trabalho. Estamos em um momento de muitas decisões.
(Por Marciele Brum,
Zero Hora, 05/05/2007)