A recomendação do 4º relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) da Organização das Nações Unidas, de estímulo às energias renováveis, com destaque para os biocombustíveis, deve ser encarada com ressalvas, segundo o coordenador da Campanha do Clima da organização ambientalista Greenpeace do Brasil, Luís Piva.
O relatório, divulgado ontem (4/5) na Tailândia, aponta que a estabilização das emissões de gases causadores do efeito estufa poderá custar menos para todos os países do mundo do que permanecer na inércia. No que se refere aos biocombustíveis, o IPCC indica que essa tecnologia poderá ocupar entre 3% a 10% da matriz do setor de transportes nas próximas três décadas.
Embora concorde com IPCC, no sentido de que essa é uma alternativa para reduzir o aquecimento global, Piva alerta que "também pode se tornar um problema, se isso não for feito de uma forma responsável, sustentável".
Também o coordenador da campanha de Energias Renováveis do Greenpeace do Brasil, Ricardo Baitelo, destacou que as restrições à utilização dos biocombustíveis se referem aos impactos ambientais e sociais. Ele lembrou as condições de trabalho dos bóias-frias – "um serviço temporário e não qualificado, que provoca êxodo de uma população de regiões brasileiras para outras".
Na questão ambiental, acrescentou, "temos os impactos do desmatamento, os impactos do balanço energia-alimento, como já se viu em outras regiões do globo". E argumentou: "Ao transformar biomassa em energia, pode faltar alimento e provocar uma subida do preço do alimento, e também existe o uso de pesticidas e tóxicos".
O ambientalista advertiu ainda que a cana-de-açúcar consome muita água: "Com a transformação da cana em combustível para exportação, o Brasil poderá estar indiretamente exportando a água que no futuro próximo, dentro de 20 anos, pode faltar para as populações".
De acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o desmatamento ocorrido no Brasil no período de 2000 a 2005 representou 42% da perda líquida de áreas florestais no mundo. No total, cerca de 17% da Amazônia já foram desmatados, o que equivale a cerca de 700 mil quilômetros quadrados.
Ricardo Baitelo avaliou que com o deslocamento da fronteira agrícola para expansão da cultura da cana, visando à produção de etanol, esse problema pode ser ampliado. “O que acontece é um efeito cascata: o etanol ocupa uma extensão de terras que nem sempre estão sendo monitoradas e acaba pressionando as áreas utilizadas para plantação de soja e pecuária que, aí, avançam sobre a Amazônia”, alertou.
(Por Alana Gandra,
Agência Brasil, 05/05/2007)