Foi lançada nesta sexta-feira (4/5) a terceira parte do quarto relatório de avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climátiicas), da ONU, na Tailândia.
O relatório "Mitigação das Mudanças Climáticas" conclui que adiar a redução nas emissões poderá acarretar inúmeros riscos ao planeta. O documento aponta ainda que as próximas duas ou três décadas serão decisivas para determinar quais impactos das mudanças climáticas podem ser evitados. O cenário mais otimista apresentado pelo IPCC recomenda que o aumento médio da temperatura global deve ficar abaixo dos 2ºC, o que implicaria um corte de 50% nas emissões de gases estufa até 2050 em relação aos níveis de 1990.
“As informações divulgadas hoje completam nosso quadro de opções para o futuro”, disse Stephanie Turnmore, do Greenpeace, que acompanhou o trabalho do IPCC na Ásia durante esta semana. “Quanto maior a demora na tomada de ações efetivas contra as emissões, mais rapidamente os efeitos das mudanças climáticas deverão afetar a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo”.
Para o Greenpeace, é essencial que o aumento médio da temperatura global seja mantido abaixo dos 2ºC, o que significa que as emissões mundiais de gases estufa devem atingir seu auge em 2015 e a partir daí, declinar rapidamente. O terceiro relatório do IPCC também indicou que os atuais modelos subestimaram o nível de redução das emissões necessário para estabilizar a concentração de gases estufa.
O IPCC apresentou uma série de opções para a mitigação das mudanças climáticas, inclusive diversas medidas que podem reduzir os custos de geração de energia.
Uma das principais conclusões é que estabilizar as emissões de gases do efeito estufa poderá custar significativamente menos do que continuar na inércia. De acordo com o IPCC, estabilizar as emissões entre 450 e 550 ppm (partes por milhão de CO2 equivalente) custaria cerca de 0,2% a 3% do PIB global em 2030, ou menos de 0,1% por ano.
De acordo com o relatório Stern, publicado em outubro de 2006, os custos da inação poderiam chegar entre 5% a 10% do PIB mundial e, no pior cenário, até 20%. Ou seja, os custos de mitigação são muito inferiores aos custos de adaptação e enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas.
Informações provenientes de Bangcoc mostram que a discussão sobre a responsabilidade das emissões causou polêmica entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Entre os pontos de debate, quem deve começar o corte de emissões e pagar a conta do problema. Apesar da responsabilidade histórica de países desenvolvidos como EUA e Inglaterra, as emissões de países em desenvolvimento como China, Índia e Brasil deverão crescer mais até 2030.
Para reduzir as emissões, de acordo com a análise do IPCC, as energias renováveis e a eficiência energética têm efeito positivo e potencial de crescimento dos 18% atuais para 30%-35% em 2030. Por outro lado, o relatório indica que a energia nuclear deve crescer apenas 2%, dos atuais 16% para 18% em 2030, e ressalta que as questões de segurança, lixo radioativo e proliferação de armas nucleares seguem como restrições a esta tecnologia.
“De todas as opções de geração de energia existentes atualmente, a nuclear é a mais cara de todas. No cenário brasileiro então investir em geração nuclear é um desperdício inaceitável de recursos públicos”, prossegue Luis Piva. “Com os R$ 7,4 bilhões previstos para construir a usina nuclear de Angra 3, por exemplo, seria possível implementar um parque eólico com o dobro da potência, gerando 32 vezes mais empregos e eliminados os riscos de acidentes e problemas com o lixo radioativo”.
Na questão dos biocombustíveis, de evidente interesse brasileiro, o IPCC projeta que tal tecnologia poderá ocupar de 3% a 10% da matriz do setor de transportes em 2030.
O Greenpeace lembra ainda que a principal responsabilidade brasileira no cenário de mitigação das mudanças climáticas é deter o desmatamento da Amazônia. A organização afirma que o Brasil tem um horizonte de dez anos para zerar as taxas de destruição florestal para salvar a Amazônia e o planeta.
De acordo com o relatório da ONU para a Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), o desmatamento ocorrido no Brasil entre 2000 e 2005 representa 42% da perda líquida de áreas florestais no mundo. Neste período, 31 mil km2 de florestas foram perdidos a cada ano, incluindo todos os biomas. No total, cerca de 17% da Amazônia já foram desmatados, o equivalente a quase 700 mil km2.
“O fator chave a ser ressaltado é a urgência nas ações. As tecnologias, informações científicas e os recursos necessários para implementar as soluções e minimizar os impactos já estão ao alcance dos líderes mundiais”, conclui Luis Piva. “Apenas a adoção de medidas concretas de redução das emissões poderá evitar as catástrofes previstas no relatório de impactos apresentado pelo IPCC no início de abril”.
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Envolverde, 04/05/2007)