A indústria mundial de energia nuclear recebeu com satisfação, na sexta-feira, 4/5, o apoio tácito dado a esse tipo de tecnologia por importantes cientistas e economistas, na mais recente análise sobre a crise provocada pelo aquecimento global.
O Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), reunido em Bangcoc, disse que o combate ao aquecimento era realizável tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista tecnológico, contanto que medidas fossem adotadas prontamente. A tecnologia nuclear é citada como parte do pacote.
"Esse é o senso comum. O que mais há para gerar uma grande quantidade de eletricidade e que não produza carbono?", perguntou Ian Hore-Lacy, da Associação Nuclear Mundial.
"Se temos uma tecnologia capaz de ser usada em uma escala maior do que a atual e que não emite carbono, não é preciso ser PhD (ter doutorado) para chegar à conclusão de que isso tem um grande potencial", afirmou Hore-Lacy à Reuters, em Londres.
A indústria nuclear civil, que viu seu futuro ameaçado depois de uma explosão em Chernobyl, em 1986, ter espalhado uma nuvem de material radioativo sobre a Europa, testemunhou suas chances de sobrevivência melhorarem dramaticamente em meio à busca por uma solução para o aquecimento global.
Os cientistas afirmam que as temperaturas da Terra vão aumentar entre 1,8º C e 3º C neste século, devido às emissões de carbono advindas da queima de combustíveis fósseis nos setores de transporte e de produção de energia. As temperaturas mais altas provocariam um caos no clima da Terra.
Os defensores da tecnologia nuclear afirmam que ela não produz carbono. Já os adversários argumentam que a extração, refino e transporte de material atômico geram emissões de carbono.
O relatório do IPCC observou que a energia nuclear responde atualmente por cerca de 16% da eletricidade consumida no mundo e disse que essa cifra pode elevar-se para 18% até 2030.
Mas o chefe do órgão do governo austríaco para o combate ao aquecimento global, presente em Bangcoc, afirmou que esse dado era questionável.
"Algo do tipo poderia dar a impressão de que o IPCC prevê um aumento significativo da contribuição da energia nuclear", afirmou Klaus Radunsky. "Isso seria o equivalente a politizar o IPCC, algo que, na nossa opinião, não é apropriado."
Bert Metz, co-presidente do grupo do IPCC responsável pelo relatório, ressaltou que a declaração do órgão não significava um endosso à energia nuclear.
"Essa é uma avaliação estritamente técnica. Não estamos fazendo nenhum tipo de recomendação para o futuro", afirmou.
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Reuters - Agência Estado, 04/05/2007)