Um subproduto da transformação de rochas basálticas em brita está revolucionando a citricultura e a produção de mudas e flores em Pareci Novo, no Vale do Caí. O pó resultante da quebra das rochas se mostrou um aditivo natural capaz de potencializar as qualidades das plantas.
A idéia é do engenheiro agrônomo da Emater Gilnei Antônio Galvagni, que resolveu inverter a ordem das pesquisas acadêmicas. Quando se mudou para uma nova casa, em janeiro de 2006, Galvagni viu que no trilho de brita que dava acesso à garagem havia um pé de tomate. A planta rendeu cerca de três quilos do fruto.
- Era um pé diferente. Tinha mais frutos do que folhas e cresceu em um local hostil, aparentemente sem fertilidade alguma. A partir desse momento decidi buscar produtores dispostos a testar o insumo em suas culturas - relata.
O agrônomo propôs a produtores de flores instalados no município adicionar uma pequena quantidade do sedimento na preparação da terra onde são cultivadas as mudas. Com a observação e o relato dos participantes do experimento, constatou um aumento da quantidade de raízes nas plantas. Elas passaram a absorver mais nutrientes do solo e ficaram mais resistentes a pragas e doenças.
As pedreiras próximas às plantações fornecem gratuitamente o pó de brita aos produtores participantes da pesquisa. Por enquanto, o subproduto - até então sem nenhuma aplicação ou potencial de venda - está em vias de ser comercializado, ainda sem preço estabelecido.
- Estamos em processo de industrialização. Fizemos uma máquina semelhante a um aspirador para captar o pó. Hoje, em três dias, conseguimos uma produção de meia tonelada. Se der certo comercialmente, teremos de aumentar essa quantidade - projeta um dos sócios da Pedreira Triunfense, de Montenegro, João Carlos Domingues Carollo.
Há 12 anos, Vilmar José Silvestrin, 47 anos, deixou para trás as lavouras de milho, soja e algodão de Toledo, Paraná, para apostar no cultivo de flores em Pareci Novo. Os pesticidas acabaram com a qualidade de vida do agricultor, desde os oito anos de idade na lida campeira.
- Minha mulher era dessa região. Viemos para cá e fiquei um ano analisando o mercado, até escolher as flores. Para ganhar espaço precisamos apostar na qualidade. É o que o pó de basalto está nos proporcionando - atesta o produtor.
A pesquisa
> O trabalho começou com a coleta do material em uma pedreira próxima de Pareci Novo, em abril de 2006. O pó de basalto, semelhante ao cimento, foi garimpado na britadeira
> Em 21 de junho de 2006, três produtores se comprometeram a realizar os testes. Após 60 dias, Galvagni foi a campo observar os primeiros resultados. Constatou aumento nas raízes das plantas, naquele caso, mudas de flores
> Os resultados animaram os produtores e, dos cerca de 90 instalados em Pareci Novo, 15 integraram-se à pesquisa
> Na petúnia, em uma semana, já houve incremento de raízes, resultando em uma planta com folhas mais verdes, espessas e flores mais coloridas e duradouras
> Dentre os elementos químicos constituintes do basalto, o encontrado em maior quantidade (cerca de 50%) é o dióxido de silício. Apesar de não ser um elemento essencial às plantas, desempenha importantes funções. É considerado um elemento útil ou benéfico e está normalmente relacionado ao controle de pragas e doenças
> Não foi estabelecida uma dosagem específica, mas a recomendação é utilizar em torno de três quilos de pó de basalto por metro cúbico de substrato, dependendo da espécie
> O pó de basalto já foi testado em mudas de eucalipto, ipê amarelo, cítricas, palmeiras, plantas condimentares e medicinais
Fonte: engenheiro agrônomo Gilnei Antônio Galvagni
(Por Roberta Pschichholz, Zero Hora, 04/05/2007)