Alguns episódios recentes - a demissão do presidente do Ibama e de seis dos sete diretores desse órgão, a crise política gerada pela questão dos empreendimentos florestais no Rio Grande do Sul e a Operação Moeda Verde deflagrada ontem em Santa Catarina - colocam a questão ambiental no centro de um debate de graves implicações. Esses três fatos refletem situações diferentes e identificam os interesses que estão em jogo. Evidentemente o caso catarinense, que envolve acusações de corrupção e que, por isso, gerou ações da Polícia Federal com respaldo da Justiça, não pode ser colocado no mesmo nível dos outros dois. Tanto a crise do Ibama como a da secretaria gaúcha do Meio Ambiente decorrem das críticas feitas à lentidão com que se processam as decisões sobre licenças para projetos energéticos ou industriais. No caso da Operação Moeda Verde, há a investigação de crimes. Nos outros dois, há debate político e cobranças administrativas. Nos três, no entanto, identifica-se a questão ambiental como área de interesses poderosos e conflituados, em relação aos quais a sociedade não pode deixar de prestar atenção.
Quanto ao caso catarinense, o que se exige é que as autoridades policiais e judiciárias cumpram a lei, levando responsavelmente a investigação às suas últimas conseqüências. Ainda que a burocracia excessiva dificulte empreendimentos, não será nunca pela fraude, pela corrupção de funcionários ou pela adulteração de documentos que se tratará da questão ambiental. Já no caso do Ibama e do licenciamento dos projetos de florestamento, o que está em jogo é a adequação entre a legislação ambiental e os projetos de crescimento econômico. É importante para o país que esse debate se realize. Não há sentido em colocar a questão ambiental em contradição com o progresso. Ao contrário, a preservação da natureza e o desenvolvimento econômico não podem ser entendidos um sem o outro. A isso já se deu o nome de desenvolvimento sustentável, que, muito mais do que um rótulo, é a síntese desse complexo esquema de interesses, preocupações e soluções.
É hora de se discutir o tema com a racionalidade que uma questão tão grave exige. Infelizmente, há uma tendência brasileira e mundial de transformar a luta ambiental em algo marcado por emocionalismo e preconceito, o que certamente prejudicará a busca de definições objetivas. Neste sentido, chamar os defensores do ambientalismo de ecoxiitas ou desmerecer os empreendimentos industriais são posturas que contrariam a necessidade de se encontrarem soluções sustentáveis e racionais. O debate que está em curso é necessário, inclusive para que se chegue a uma legislação ambiental clara, que permita uma fiscalização adequada e rigorosa. Se há um conflito entre a defesa da ecologia e as necessidades do desenvolvimento, ele precisa ser resolvido de modo que contemple os interesses mais amplos e mais duradouros da sociedade.
O desenvolvimento sustentável, com proteção do ambiente, tornou-se um fator importante nas preocupações de governos, entidades multilaterais e organizações da sociedade.
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Editorial Zero Hora, 04/05/2007)