O pesquisador Roberto Schaeffer - um dos três brasileiros que participaram do 3º grupo de trabalho responsável pela formulação do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU) - afirma que já existem tecnologias de baixo custo capazes de conter a emissão de gases do efeito estufa.
Segundo ele, as medidas capazes de limitar os efeitos das mudança climáticas variam da adoção de práticas de eficiência energética a mudanças no padrão individual de consumo. Ele diz que 75% da emissão mundial de gases têm origem no gasto de energia, elétrica ou combustível. A diminuição das emissões de gás carbônico poderá custar até 3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Schaeffer pondera que não se trata de um custo alto em comparação aos benefícios trazidos pela proteção do meio ambiente.
“Não há mais aquela oposição entre mudança climática ou meio ambiente e desenvolvimento. Muito pelo contrário, para um país se desenvolver precisará incorporar de forma crescente a variável 'mudanças climáticas' no seu modelo de crescimento”.
Schaeffer lembra que o mundo está numa corrida contra o tempo para limitar o aquecimento global, já que alguns gases do efeito estufa têm vida longa na atmosfera e, invariavelmente, vão causar o aumento da temperatura em cerca de um ou 1,3 grau Celsius.
“Se formos muito eficientes no curtíssimo prazo, nos próximos 10 ou 15 anos, talvez a gente consiga limitar o aumento médio da temperatura do planeta a cerca de 2 graus Celsius em relação ao que foi há 100, 150 anos”. Nesse sentido, acrescenta o pesquisador, o Brasil está à frente dos outros países pelo menos no que se refere ao uso de combustíveis menos poluentes. Além de usar carros movidos inteiramente a álcool, o país adiciona álcool à gasolina desde 1975.
“Isso significa que cada quilômetro rodado com a gasolina brasileira está emitindo aproximadamente 22% menos gás carbônico que um quilômetro com um carro que rodasse, por exemplo, com gasolina americana. De fato, a gasolina brasileira é, do ponto de vista de mudança climática, mais limpa que a gasolina média vendida no mundo”. Schaeffer é pesquisador do Programa de Planejamento Energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A terceira parte do relatório do IPCC será lançada hoje (4) em Bangcoc, na Tailândia.
O documento - cujo tema é Mitigação das Mudanças do Clima - faz uma avaliação das causas e efeitos do aquecimento global e de que medidas devem ser tomadas para conter o aumento da temperatura. A terceira etapa deve apontar a importância da substituição dos combustíveis fósseis (carvão, gás natural, petróleo) pelos biocombustíveis. A expectativa é de que o relatório completo seja divulgado até o fim de 2007.
(Por Ana Luiza Zenker e Irene Lobo, Agência Brasil, 04/05/2007)