As negociações da Organização das Nações Unidas sobre meios de combater a mudança climática estão próximas de uma aprovação de um plano geral nesta sexta-feira (04/05), mas as diferenças ainda estão sendo debatidas, dizem delegados. As discussões sobre os custos dos cortes de emissões de gases causadores do efeito estufa e sobre a estabilização dos níveis de gases na atmosfera estão entre os temas mais difíceis. As negociações podem continuar até os últimos minutos do encontro de Bangcoc, dizem representantes.
Dois delegados que falaram com a Reuters com a condição de manterem o anonimato estavam confiantes de que o documento pode ser fechado até sexta-feira. "Não há clima aqui para causar algo destrutivo", disse um representante depois dos debates que arrastaram-se até as primeiras horas desta quinta-feira, 3. Ele esperava mais um longo dia de conversas. "Alguns países estão sendo difíceis e não sabemos como será até o momento final", disse. Robert MacFadden, da delegação norte-americana, disse que há muitos temas complexos sendo debatidos, não somente um.
RelatórioCientistas e autoridades de governos de mais de 100 países estão debatendo desde segunda-feira o relatório do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática (IPCC), que condensa o trabalho de 2.500 cientistas. O relatório é o terceiro a ser divulgado neste ano. Os dois anteriores mostraram um cenário sombrio com o aquecimento causado por humanos, com mais fome, secas, ondas de calor e elevação dos níveis dos mares. Uma projeção do último relatório estima que a estabilização das emissões de gases nocivos custará entre 0,2 por cento e 3,0 por cento do produto interno bruto mundial até 2030, dependendo da velocidade da desaceleração das emissões.
Por exemplo: até 2030, o custo de deixar concentração de gás do efeito estufa subir para 650 ppmv (partes por milhão de volume) de dióxido de carbono é de 0,2 por cento do PIB mundial, diz o texto. O nível mais baixo, de 445 ppmv seria o mais caro e quase impossível de ser atingido, por causa da rápida elevação das emissões com queima de combustível fóssil, agricultura e mineração. As concentrações atuais estão em cerca de 430 ppmv e subindo rapidamente.
Discussão China-EuropaUm dos principais temas em Bangcoc, dizem delegados, foi uma disputa entre a Europa e a China. A União Européia, que já estabeleceu uma meta de corte de emissões de pelo menos 20% até 2020, afirma que as reduções não custarão muito. Mas a China é contra qualquer linguagem que sugira um teto de emissões, ou de níveis de estabilização, que poderiam deixar o país vulnerável a exigências em negociações futuras sobre clima para que reduza seu rápido crescimento econômico e gaste muito com tecnologia mais limpa.
"Basicamente, o que está acontecendo é que os europeus querem dizer que não custa nada e muitas outras pessoas querem enfatizar a noção de que custa algo. É isso", disse um dos delegados. Com níveis de crescimentos econômicos acima dos padrões (a China elevou seu PIB em 11,1% no último trimestre), o país, atualmente, é o segundo maior emissor de gases do efeito estufa no mundo, atrás apenas dos EUA.
Aquecimento e economiaMuitas das discussões envolvendo o aquecimento global esbarram na capacidade de desenvolvimento da economia, cujo crescimento está diretamente ligado com o nível de poluição emitido. Além da China, outra economia em rápida expansão é a Índia, que compartilha muitas das opiniões chinesas que envolvem a desaceleração do crescimento. "China e India são os governos que mais questionam o acordo de metas existente e exigem readaptações no texto", afirmou Michel Petit, um delegado francês. "Mas agora já é possível contornar suas exigências e chegar a um acordo."
O outro representante disse que não foi estabelecido um alvo específico sobre estabilização durante as negociações. Mas a UE afirma que elevação de 2 graus centígrados é algo "perigoso" para o sistema climático. "A UE quer algo bem abaixo de 550 ppmv. A China quer de alguma forma excluir a informação sobre cenários de baixa, e outros países também", disse o delegado.
O grupo ambientalista WWF disse nesta quinta-feira que a China não deveria ser rotulada de vilã e que os representantes do país levantaram temas importantes. "Eles têm o padrão de renovação que os EUA não têm. Eles têm padrões de eficiência de combustíveis para automóveis que estão entre os mais estritos do mundo", disse Hans Verolme, diretor do Programa de Mudança Climática Global da WWF.
(
Reuters, 03/05/2007)