Diante dos problemas trazidos pelo aquecimento global, a emissão de gases provocadores do efeito estufa (GEE) é uma das principais metas a ser atacada na tentativa de mitigar as implicações das mudanças climáticas no planeta. A redução do uso de combustíveis fósseis – carvão e petróleo – para a geração de energia e o emprego de fontes alternativas são apontados como as principais ações para um modelo sustentável de produção energética.
A ampliação da
energia nuclear no Brasil é uma das opções que ressurge como proposta
pelos setores energéticos do país. O movimento socioambiental é
veementemente contra a idéia por temer os riscos de acidente e o
problema do lixo radioativo. Atualmente, a energia nuclear corresponde
a 2,4% da produção energética brasileira, gerados pelas usinas Angra 1
(657 megawatts) e Angra 2 (1350 megawatts). A principal matriz do
Brasil é a hidroeletricidade (80%). A intenção é aumentar a capacidade
nuclear com a instalação de Angra 3 em 2012.
Há cerca de uma semana, em audiência pública da Comissão de Minas e Energia, o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, disse que a construção de Angra 3 está prevista no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Segundo ele, assim, como Angra 2, a sua geração será de 1.350 megawatts.
“Para o Brasil
crescer e democratizar a sua energia, o país não pode e não deve abrir
mão de nenhuma forma energética. A nuclear vai ajudar o desenvolvimento
sustentável através do fornecimento de energia limpa, a preço
competitivo, com total gestão sobre seus rejeitos e contribuindo
fundamentalmente para a redução dos GEEs”, defendeu o diretor da
Eletronuclear, Roberto Travassos, no 2o Congresso Ibero-Americano sobre
Desenvolvimento Sustentável, que aconteceu em São Paulo entre os dias
24 a 26 e abril.
Segundo Travassos, além de Agra 3, para 2030 está planejada a construção de mais duas usinas nucleares na região sudeste e outras duas no nordeste. “Dependendo do crescimento da economia, esse número de quatro usinas, pode subir para oito”, prevê o diretor da Eletronuclear.
Apesar de a matriz energética brasileira estar concentrada na hidroeletricidade, Travassos lembra que há uma dificuldade para a construção de outras grandes hidrelétricas na região norte, onde o potencial hidrelétrico é o maior do país, porque 40% dessas terras são demarcadas como territórios indígenas ou reservas ambientais. Essa seria uma das principais razões para o Brasil adotar a opção nuclear.
O orçamento estimado pela estatal é de que serão necessários US$ 1,8 bilhão para finalizar Angra 3. “O projeto está sendo apreciado no CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) e estamos aguardando um posicionamento do governo para a sua retomada”, diz Travassos. Segundo ele, o EIA-Rima (estudo e relatório de impacto ambiental) de Angra 3 está submetido ao Ibama. “Em relação ao licenciamento nuclear, por (Angra 3) ser uma cópia quase fiel de Angra 2, estamos bastante confiante que não haverá problemas, a grande diferença entre elas é sua instrumentalização digital”, avalia.
Custos
Um dos principais pontos de discordância entre os defensores da energia nuclear e os socioambientalistas são os custos desse tipo de matriz. Guilherme Leonardi, coordenador da campanha de energia antinuclear do Greenpeace, garante que, com os investimentos a serem gastos em Angra 3, é possível construir parques eólicos num período de um a dois anos. Os custos poderiam chegar até US$ 7 bilhões. “A implantação de Angra 3 não é viável. A energia nuclear é extremamente cara no Brasil e no mundo. Se quiserem suprir a demanda energética, há outras mais baratas, como a eólica, solar e a biomassa, que não produzem lixo radioativo. O Brasil tem bastante potencial para gerar energia sustentável”. “Essa matriz não é limpa e sim suja. Ela produz lixo radioativo e até hoje não tem soluções para esse tipo de rejeito. Não se pode trocar um problema pelo outro”, avalia Leonardi.
O diretor da Eletronuclear enfatiza que o fato de o Brasil ter grandes reservas de urânio colabora para se reduzir os custos da energia nuclear. Segundo ele, apenas um terço do território foi prospectado para a extração do material e, até então, o país conta com 309 mil toneladas. “Se Angra 1,2 e 3 estiverem em funcionamento, elas podem operar por 500 anos com essa quantidade de urânio”, calcula Travassos. O Brasil é o sexto país em reservas de urânio.
No mundo
Atualmente, 31 países operam usinas nucleares; são 443 no total e existem outras 38 em construção em 15 países, incluindo Angra 3 no Brasil. Segundo Roberto Travassos, diretor da Eletronuclear, os Estados Unidos, que é o maior gerador de energia nuclear, tem feito pequenos investimentos para alongar a vida útil de 48 das suas 104 usinas por mais 20 anos. Mais 20 outras estariam em revisão.