A primeira microusina gaúcha de produção de álcool em que os produtores serão responsáveis por sua operação e comercialização foi inaugurada ontem (2/5) em Redentora. A planta, resultado de uma parceria entre a Petrobras e a Cooperativa Mista de Produção, Industrialização e Comercialização de Biocombustível do Brasil (Cooperbio), é parte do programa de validação tecnológica e produção da agricultura familiar e a primeira de nove que serão implementadas no Estado ainda no primeiro semestre. O projeto absorverá cerca de R$ 4 milhões, sendo R$ 2,3 milhões da Petrobras e o restante de prefeituras, cooperativas e órgãos de fomento. No total, 30 mil pequenos agricultores devem ser beneficiados com os investimentos.
As unidades terão capacidade de processar 500 litros de álcool ao dia. O projeto inclui, ainda, a construção de uma ratificadora central no município de Frederico Westphalen, com capacidade para produzir diariamente 5 mil litros. No entanto, o empreendimento espera a liberação de licença ambiental pela Fepam. A expectativa é de que esteja em funcionamento até junho.
A unidade de Redentora beneficiará diretamente 175 produtores, sendo que cada um destinará dois hectares de terras ao cultivo de cana-de-açúcar. O faturamento desta unidade deve se aproximar de R$ 2 milhões ao ano.
O projeto possibilitará a produção de etanol a partir de outras matérias-primas além da cana-de-açúcar, como mandioca. Também se diferencia por utilizar subprodutos da cana na alimentação animal. Os investimentos ainda contemplam laboratórios e estações de avaliação do produto. A produção será 100% destinada à Petrobras, mas especialmente ao consumo dos gaúchos.
"O projeto é uma importante alternativa para o setor de combustível e abre uma terceira via para a produção agrícola", afirmou o diretor de gás e energia da Petrobras, Ildo Sauer. Ele acredita que o projeto poderá colocar o Rio Grande do Sul numa posição de destaque no cenário nacional de biocombustível, pois deverá dobrar a participação gaúcha no fornecimento brasileiro de álcool, hoje representando 1,5% do total. O Brasil consome 12 bilhões de litros por ano.
"Esse é um projeto que envolve os pequenos agricultores e, o Rio Grande do Sul, por sua característica agrícola, pode ter mais empreendimentos do gênero", afirmou Sauer. "Vamos avaliar a possibilidade de ampliar o processo, mas com o tempo", comentou. Existe a possibilidade de a produção derrubar os preços do álcool no Estado.
Sauer comentou, ainda, o relatório da FAO, órgão das Nações Unidas, sobre a possibilidade de o plantio de cana e a produção de biocombustível prejudicarem a alimentação principalmente em países pobres. Para ele, o problema da fome não é a escassez de terras para plantar, mas sim a distribuição de renda e a falta de mais canais de distribuição. "Se produz muito mais do que é consumido no mundo", disse.
(Jornal do Comércio, 03/05/2007)