Qual foi, qual é e qual será a importância da baía da Babitonga para o desenvolvimento de Joinville e da sua região de abrangência? Esta é a pergunta a ser respondida antes de qualquer atitude mais concreta em direção ou contra a criação da unidade de conservação da baía da Babitonga proposta pelo Ibama. Numa primeira impressão, a proposta apresentada surge como se fosse uma interferência na “ordem do dia”. Eis um problema, as cabeças do Ibama sofrem do “mal dos ditadores”, julgam-se donos da verdade e da razão, querem sempre impor novas leis e regras sem discussão, criam situações impactantes e embaraçosas, esquecendo que devem respeito e deveres à sociedade.
Mas o fato concreto é que a notícia da UC da Babitonga caiu como uma “bomba” no colo das principais lideranças locais e regionais, gerando diversos tipos de reação, com um alto grau de contrariedade à intenção proposta. A falta de transparência do Ibama é condenável, pois se o assunto viesse à baila num processo mais transparente e mais democrático, talvez as opiniões não tivessem sido tão negativas. Responder à pergunta formulada no início pode dar pistas da melhor alternativa para garantir não apenas a vitalidade da baía, mas, acima de tudo, melhorar sua qualidade ambiental sem impedir o desenvolvimento das comunidades de entorno.
O tema é abrangente e sugere discussões em campos da ciência, sociologia e economia. A primeira atitude deveria ser uma autocrítica daqueles que usam e abusam da baía. O saldo da ação do homem sobre a natureza na Babitonga tem sido claramente negativo para os dois lados. Só para que tenhamos uma referência do estrago que a cidade de Joinville já provocou sobre parte da baía: o volume de sedimentos despejados nos últimos 50 anos na lagoa do Saguaçu, que corresponde a pouco menos que 5% da área da babitonga, totaliza cerca de 10 milhões de metros cúbicos de uma sopa indigesta que mistura esgotos domésticos, efluentes industriais, lixo e outros materiais com alto grau de contaminação.
Espécies que habitavam ribeirões e a lagoa sumiram com a poluição. Com as marés, parte dos contaminantes migra para outras regiões da baía ou nela se dispersa, mas isto tem limite. No andar da carruagem, seremos uma baía da Guanabara daqui a poucos anos. Se olharmos a disposição dos governantes e as nossas próprias atitudes neste sentido, a situação é desoladora. Se nós, habitantes das margens da Babitonga, somos os responsáveis pelo comprometimento da sua qualidade ambiental, já é hora de pagarmos um preço pelo que produzimos. Também é hora de definir como devemos usar este recurso natural de forma sustentável.
Não acho que a criação da UC da Babitonga vá resolver o problema, mas sou favorável a uma atitude pró-ativa que melhore continuadamente a situação da baía e cujo custo deverá ser rateado por aqueles que contribuíram para a degradação e também por aqueles que dela se beneficiarão. Não sou especialista na área ambiental, mas tenho o bom senso de saber o que é certo ou errado. Se não buscarmos soluções rápidas e consistentes em direção à qualificação da baía, estaremos sendo irresponsáveis. Ou partimos para uma atitude concreta, louvável, corajosa e responsável ou teremos como resposta propostas como esta que o Ibama pretende nos impor.
Muito pior que atitude do Ibama são a omissão e a possibilidade de vermos a baía da Babitonga morta. Infelizmente, na sociedade moderna existem os cegos que ainda acham que a natureza é ilimitada. Somos competentes para oferecer à baía e a nós mesmos a solução desta questão, mas há de se convir que até o momento pouco ou nada praticamos neste sentido.
(Por Sérgio Guilherme Gollnick, presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB)/Núcleo Joinville,
Opinião A Notícia, 02/05/2007)