As soluções para deter o aquecimento do planeta que serão recomendadas pelo próximo informe da Organização das Nações Unidas obrigam os governos a adotar medidas difíceis no plano econômico. O estudo, intitulado “Mitigação da mudança climática”, é o terceiro de uma série de documentos apresentados este ano pelo Grupo Intergovernamental da Mudança Climática (IPCC) da ONU. Os dois primeiros se referiam a “Bases científicas físicas”, divulgado em fevereiro, e “Impactos, adaptação e vulnerabilidade”, apresentado este mês.
Cerca de dois mil cientistas, ambientalistas e funcionários de governos de mais de 180 países estão reunidos desde o último dia 27 em Bangcoc para debater o novo relatório antes de sua publicação, na próxima sexta-feira. Neste informe o IPCC vai explorar mecanismos para limitar ou impedir a emissão de gases causadores do efeito estufa e incentivar “atividades que os removam da atmosfera”, segundo um comunicado do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Porém, um especialista que integra a equipe da Tailândia sobre mudança climática, Anong Snidvong, da Universidade Chulalongkonr, de Bangcoc, previu que este terceiro informe provocará “um debate quente e feroz. As autoridades se referem diretamente ao desenvolvimento econômico atual e futuro dos países”, por isso são de especial interesse para os governos, explicou Anong à IPS. O êxito do informe será medido pela disposição dos governos em adotar novas tecnologias de energia para “reduzir os gases causadores do efeito estufa em cada setor econômico de seu país. É necessária uma ação imediata”, acrescentou.
Ambientalistas que participam da reunião em Bangcoc previram que governos de todo nível de desenvolvimento econômico não estão dispostos a avançar na introdução de novas tecnologias fósseis como petróleo, gás e carvão. “Este informe enumera as opções tecnológicas que funcionam para reduzir as emissões de dióxido de carbono, baseadas em evidências”, disse Catherine Pearce, da rede de organizações ambientalistas Amigos da Terra Internacional. “Este é o primeiro passo que os governos devem dar para soluções concretas”, acrescentou. O compromisso político dos países será colocado à prova quando os governos expressarem em que grau estão dispostos a investir para incentivar essas tecnologias, disse Pearce as IPS por telefone desde Londres. “Os governos não têm mais desculpas para o atraso”, ressaltou.
De fato, a organização Greenpeace Internacional acredita que a divulgação do informe represente um desafio para que os governos do mundo industrial e do mundo pobre “revolucionem o setor da energia”. Para as nações em desenvolvimento, isso suporia investir em tecnologias alternativas que contribuam com o crescimento econômico sem reduzir seus requerimentos energéticos. Hoje, as fontes renováveis, especialmente a biomassa usada para a calefação, representam apenas 13% da demanda primária de energia, segundo um estudo do Greenpeace.
“Aproximadamente 80% do fornecimento primário de energia ainda procedem de combustíveis fósseis”, diz o informe. O petróleo concentra 36% da energia mundial e o carvão 25%, acrescenta. “A participação das fontes renováveis na produção de energia é de 18%”, afirmou o Greenpeace. “É necessário um uso maciço de fontes renováveis”, disse à IPS o gerente da equipe de mudança climática e energia dessa organização no sudeste asiático, Shailendra Yashwant.
“A mudança e necessária pelo bem do mundo em desenvolvimento e dos pobres do planeta”, acrescentou Yashwant. Os pobres serão os mais afetados pela mudança climática, de acordo com o segundo informe do IPCC divulgado este ano, “Impactos, adaptação e vulnerabilidade”. Na África subsaariana, por exemplo, 250 milhões de pessoas sofrerão escassez de água em 2020 se não forem adotadas medidas urgentes, diz o estudo. Os informes deste ano alertam que a temperatura média do planeta pode aumentar seis graus até o final do século. Até um terço das espécies animais e vegetais se verão ameaçadas de extinção se essa elevação chegar a apenas dois graus.
Os efeitos do aquecimento planetário poderiam devastar economias locais e forçar a emigração de dezenas de milhares de pessoas, segundo os governos de pequenas nações insulares. “Enfrentamos o fantasma dos refugiados ambientais, particularmente no Pacífico, onde os residentes em áreas baixas seriam obrigados a emigrar”, disse o embaixador de Granada junto à ONU, Angus Friday. O medo dos deslocamentos humanos é real. As inundações devido à elevação do nível do mar já prejudicou terras agrícolas e outros recursos naturais vitais para as economias de pequenos paises.
Quando o furacão Ivan atingiu Granada, por exemplo, devastou 90% das casas da ilha e suas colheitas, disse Friday. Não havia passado um ano e Granada foi golpeada uma vez mais, deixando seus habitantes com nada mais do que pobreza e aflição. O IPCC previu que os pequenos países insulares serão os primeiros a sentir as conseqüências da mudança climática, apesar de emitirem apenas 0,0012% dos gases causadores do efeito estufa no mundo.
(Por Marwaan Macan-Markar, IPS, 30/04/2007)