Contrariados com o enfraquecimento do Ibama, servidores do órgão prometem perseguir pelo país o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Marina Silva (Meio Ambiente), ao estilo dos protestos organizados pelos mata-mosquitos no final do governo de Fernando Henrique Cardoso.
A idéia dos funcionários do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) é reunir manifestantes, com faixas, apitaço e carros-de-som, nos municípios a serem visitados por Lula e Marina a partir de agora.
A primeira dessas manifestações está marcada para acontecer na quinta-feira (03/05), em Uberlândia (MG), onde Lula visita um complexo energético. Na cidade funciona um escritório regional do órgão.
"É um ato legal, interessante e que costuma surtir efeito. Por isso vale a pena", disse a engenheira florestal Lindalva Cavalcanti, presidente da Asibama (Associação dos Servidores do Ibama) no Distrito Federal.
Segundo Jonas Correa, presidente nacional da Asibama, os atos pelo país diante de Lula terão como objetivo mostrar à população a importância do instituto. "[Nos protestos] vamos entregar documentos para explicar a todos o motivo de nossa reação", afirmou Correa.
Entre 1998 e 2002, o governo tucano enfrentou uma série de manifestações organizadas pelos chamados mata-mosquistos, funcionários temporários da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) afastados em 1998 pelo então ministro da Saúde, José Serra. A perseguição dos mata-mosquistos ocorreu até durante a campanha de 2002, quando Serra disputou pelo PSDB a corrida ao Planalto.
GreveOs servidores do Ibama estão em "estado de greve" desde a última sexta-feira, dia em que saiu publicada no "Diário Oficial" da União a medida provisória de criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que, na prática, enfraquece o Ibama.
Com a MP, deixam de ser responsabilidade do Ibama as unidades de conservação e os programas de pesquisa da biodiversidade. Ao órgão, com cerca de 5.800 servidores da ativa, restaram os papéis de licenciamento (para verificar impactos ambientais em empreendimentos), fiscalização (atuando como polícia ambiental) e autorização de recursos naturais.
Os servidores do órgão, em "estado de greve", podem iniciar uma paralisação nacional a qualquer momento. Uma assembléia nacional está marcada para quinta-feira.
Há ainda um desgaste do comando do órgão com o ministério. Pelo menos 2 dos 8 diretores nacionais devem deixar o Ibama, ao lado do presidente, Marcus Barros. A exoneração de Luiz Felippe Kuns Júnior, da Diretoria de Licenciamento Ambiental, foi publicada ontem no "Diário Oficial". Outro que deve sair é Márcio de Freitas, da Diretoria de Qualidade Ambiental. Os demais colocarão seus cargos à disposição assim que Barros deixar o cargo.
"O presidente do Ibama está lá até que seja nomeado um novo presidente. O Ibama não está acéfalo. Estamos repondo todos os diretores que pediram para sair. Estamos fazendo novas nomeações, e o presidente Marcus Barros ainda está na presidência do Ibama", disse a ministra Marina Silva, ontem, em entrevista ao "Bom Dia Brasil", da TV Globo.
(Por Eduardo Scolese,
Folha online01/05/2007)