CRA divulga laudo sobre reedição do fenômeno, descartando riscos à vida marinha e à saúde humana Diferente do desastre ambiental que provocou a morte de 50 toneladas de peixes na Baía de Todos os Santos, o novo fenômeno de maré vermelha, que deixou manchas nas praias de Barra do Paraguaçu, Monte Cristo e Saubara, não é considerado nocivo à saúde humana e nem mesmo à vida marinha. Um segundo laudo técnico, divulgado ontem pelo Centro de Recursos Ambientais (CRA), tranqüiliza as comunidades atingidas. “Não há qualquer restrição para banho ou ingestão dos pescados nessas regiões”, garante a diretora geral do CRA, Beth Wagner. Apesar disso, para que o meio ambiente se recupere da primeira “maré”, a pesca segue proibida nestes locais até o dia 29 de maio.
As análises identificaram nova espécie de microalga, de nome científico Cocholodinium polykricoides, responsável pelos rastros vermelhos nas águas, observados partir do último dia 13. Ao contrário do dinoflagelado Gymnodinium sanguineum, que provocou o primeiro fenômeno, esse outro não oferece riscos aos peixes. O superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), Célio Costa Pinto, também esclarece que a primeira maré vermelha, apesar de tóxica, já não representava perigo à saúde. “Apenas os peixes sofreram com os microorganismos. Proibimos a pesca e o consumo por medida preventiva”, explica o superintendente.
A proibição de extração de peixes e mariscos deve ser mantida para que a população marinha se recomponha. A data inicial determinada pelo Ibama pode se estender. “A população de peixes está comprometida. Esperamos que até 29 de maio a natureza esteja equilibrada. Caso isso não aconteça, renovaremos o prazo”, assegura Célio Costa Pinto. Atualmente, a pesca está proibida nos municípios de São Francisco do Conde, Santo Amaro, Saubara e Salinas da Margarida, além das ilhas dos Frades e de Bom Jesus do Pobres, em Salvador. Como o consumo está liberado, técnicos do CRA e do Ibama programam até mesmo um ato simbólico nas comunidades atingidas. O objetivo é desmistificar o problema. “Vamos fazer uma grande moqueca de peixe em Saubara e tomar banho nas água em que se deu o fenômeno”, revela Beth Wagner.
A diretora do CRA sugeriu que a nova maré vermelha pode estar chegando ao fim. “Hoje já não temos mais vestígios de manchas. Isso não quer dizer que o fenômeno não existe, mas é um bom sinal de que está se extinguindo”, acredita. Em entrevista coletiva, Beth Wagner também informou que as marés vermelhas estão se espalhando por algumas regiões do país. Segundo a diretora, as praias cariocas do Leblon, Ipanema, Copacabana e Barra da Tijuca estão sofrendo do mesmo problema. “Órgãos ambientais do Rio de Janeiro entraram em contato conosco. Lá, assim como aqui, não há risco à saúde”, revela.
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Fenômeno pode voltar a ocorrer
O risco de que novas marés vermelhas voltem a acontecer na Baía de Todos os Santos ainda existe. Tanto o Ibama quanto o CRA admitem que o fenômeno costuma se dar de forma recorrente. Por isso, desde que a segunda maré vermelha se iniciou, o CRA deu início ao monitoramento ostensivo das condições de oxigênio, nitrogênio, sulfatos e PH das águas. Assim, tenta prevenir fenômenos futuros.
“Queremos nos antecipar a qualquer proliferação de microorganismos. Nada garante que estamos livres de uma nova maré tóxica”, reconhece Beth Wagner, que também admite deficiência na estrutura de monitoramento. “Estamos trabalhando no limite. Precisamos reestruturar este setor”, afirma Beth Wagner. Entre os dias 15 e 16 de abril, logo após as últimas manchas aparecerem, foi feito monitoramento por 24 horas nos locais atingidos. Agora o recolhimento de amostras se dá semanalmente. A cada exame, são realizados verdadeiros debates científicos. “É uma situação relativamente nova para a gente”, diz o superintendente do Ibama.
Ainda não se conhece as causas exatas dos fenômenos de maré vermelha na Baía de Todos os Santos. Um série de fatores pode provocar a proliferação de microorganismos. O principal deles é o aporte excessivo de nutrientes nas águas. A poluição crônica, originada do despejo de esgotos, serve à reprodução das microalgas. Mas a própria natureza pode estar contribuindo com as “marés”. “O grande número de manguezais que compõem a nossa baía também ajuda”, acredita a diretora do CRA. Soma-se a isso as altas temperaturas, catalizadoras do processo.
A primeira maré vermelha ocorrida em 2007 foi identificada no dia 6 de março, notificada dois dias depois pelo CRA. Ao se deparar com o fenômeno, o órgão requisitou ajuda de universidades e especialistas de outros estados. Somente uma junta técnica foi capaz de classificar o tipo de microorganismo presente na água. Cogitou-se, inclusive, que o desastre ambiental teria sido provocado por produtos químicos de origem industrial, ou até pela pesca com bombas, o que não se confirmou.
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Correio da Bahia, 29/04/20070