O progressivo aumento da temperatura mundial vem provocando mudanças facilmente perceptíveis no clima do Rio Grande do Sul. Nos últimos cinco anos, um dos efeitos do calor galopante no planeta foi o aquecimento sem precedentes no inverno dos gaúchos.
De acordo com um levantamento realizado pelo professor de Climatologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Francisco Eliseu Aquino, entre 2002 e 2006 os meses de inverno registraram temperatura acima da média histórica.
Até 2004, os termômetros ficaram em média entre 0,3 e 0,4 grau acima do normal. Nos últimos dois anos, dispararam mais de um grau além dos padrões. O recorde do período ficou com o inverno de 2005: 1,6 grau acima da média. Naquele ano, o mês de junho deu um salto considerável, ficando com 3,5 graus a mais do que o normal.
Em outros meses, porém, a temperatura ficou abaixo da média histórica. Segundo o professor da UFRGS, não existe contradição nesse fenômeno.
- As mudanças climáticas levam a situações extremas. Pode ocorrer muito frio ou pouco frio em determinadas épocas, em outras, calor ou chuva abaixo ou acima do normal. Os extremos ficam mais presentes do que os padrões médios - afirma o especialista.
Variações no clima alteram até mesmo padrões agrícolas
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também já detectou mudanças no perfil climático gaúcho. Uma análise do pesquisador Carlos Nobre aponta que, durante as madrugadas, a temperatura gaúcha aumentou em média 1,2 grau nos últimos 50 anos. No mesmo período, a temperatura média do país inteiro registrou acréscimo de 0,7 grau.
Conforme Aquino, as variações climatológicas começam a alterar até mesmo os padrões agrícolas dos gaúchos.
- Muitos agricultores vêm adotando o hábito de antecipar o plantio para aproveitar o período de calor que começa cada vez mais cedo, antes da chegada do verão. A tendência é de que produtos típicos de temperatura mais elevada, como o café, também ganhem cada vez mais espaço no Rio Grande do Sul - acredita.
Especialistas afirmam que quaisquer alterações climatológicas decorrentes do efeito estufa serão mais sentidas em regiões como a do Estado, de clima temperado e estações bem definidas, do que em outras de frio ou calor mais constantes.
- Mesmo que tomemos medidas para combater o aquecimento agora, vamos conviver com o problema pelas próximas décadas. Mas também temos de pensar nas futuras gerações - prevê o especialista da UFRGS.
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Zero Hora, 29/04/2007)