O otimismo dos empresários e representantes do setor público contrasta com preocupações de natureza tecnológica quando se trata de analisar os rumos da produção de energia a partir do agronegócio. A análise dos impactos ambientais, por outro lado, ameniza essa nuance não tão alvissareira.
Durante a reunião da Comissão de Agricultura da Assembléia Legislativa gaúcha, na última quinta-feira (26/04), o representante da Pró-reitoria de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professor Carlos Termignoni, levantou o problema da possibilidade de dependência tecnológica do Brasil perante os Estados Unidos. Ele se referia à falta de investimentos em tecnologias para a melhoria de processos que possibilitem a utilização integral do milho, e não apenas do grão da planta, na produção de etanol. “Precisamos enfatizar a importância da base científica e da tecnologia para competirmos nesse mercado”, afirmou. De acordo com ele, para o desenvolvimento dessa tecnologia seriam necessários investimentos de centenas de milhões de dólares. Tremignoni pediu à comissão parlamentar que investigue por que o Brasil está tão atrasado nessa área e acrescentou que essa carência contrasta com a disponibilidade de água e terra do país para viabilizar o biodiesel.
O presidente da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), Paulo Reckziegel, corroborou as palavras de Tremignoni, salientando que a falta de investimentos em tecnologia na agropecuária, por exemplo, já trouxe prejuízos sérios ao RS, como foi o caso do surto de febre aftosa, há alguns anos. “A velocidade da indústria não é a mesma dos órgãos de financiamento e execução de pesquisa. Temos que criar condições para que o incentivo à pesquisa não seja tão lento”, apelou Reckziegel.
Para Carlos Adílio Maia do Nascimento, presidente do Instituto Brasileiro de Produção Sustentável e Direito Ambiental (IBPS), “é necessário, com urgência, a reconversão da petroquímica para a agroquímica, e isto está acontecendo no mundo”. Isto, segundo ele, implica no aproveitamento integral dos produtos agrícolas que originam os biocombustíveis como fibras. “No caso do algodão”, exemplificou, “temos o celulóide como derivado do processo, a partir do qual se pode produzir cera de carnaúba, ao invés de destinar esse celulóide para a petroquímica”. “O mundo percebe a necessidade da volta do que a natureza oferece em sua origem”, refletiu Nascimento.
Meio Ambiente
Do ponto de vista ambiental, o coordenador da área de Divisão do Controle da Poluição a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), engenheiro químico Renato das Chagas e Silva, apontou três fatores positivos da produção de biocombustíveis. “Quanto à produção no campo, vemos de forma positiva o crescimento da lavoura, considerando que deve haver uma preocupação constante com a recuperação e a manutenção da mata ciliar”, disse, referindo-se à importância da participação do agricultor familiar nesse processo de preservação ambiental.
Do ponto de vista do licenciamento ambiental, Chagas disse que não há impasses porque “os processos das plantas que estão chegando até nós apresentam controle ambiental de ponta”. Além disto, “dependendo do tipo de oleaginosa, gera-se biomassa, e temos licenciado termelétricas com geração térmica a partir de biomassa”. Já quanto ao consumo do biodiesel e seus impactos para o ambiente, o engenheiro afirmou que, atualmente, o diesel de origem fóssil passa por restrições porque a Agência Nacional do Petróleo (ANP) exige limitações quanto ao teor de enxofre, algo que não é problema no caso do biodiesel.
(Por Cláudia Viegas, Ambiente JÁ, 30/04/2007)