Uma geleira que fica numa ilha a apenas mil quilômetros do pólo Norte derreteu, um fiorde antes congelado agora está sem gelo e aves da região anteciparam sua migração de volta - três possíveis sinais do aquecimento global. Nesta época, final do inverno ártico, a capa de gelo sobre o mar se estende bem menos ao sul do que o normal na região do arquipélago de Svalbard (Noruega).
"Esta geleira está morrendo", disse o guia Eirik Karlsen durante uma visita a um túnel no gelo, escavado pelas águas que, no verão passado, escorriam pelo coração desta geleira sobre a localidade de Longyearbyen - uma estrutura que costumava ter três quilômetros de comprimento, mas vai derretendo rapidamente.
O túnel, onde é possível caminhar confortavelmente junto a estalactites de gelo pendentes do teto, serpenteia 15 metros abaixo da superfície da geleira Longyearbyen e mostra os enormes volumes de água levados para o vale em 2006. "No final, o teto aqui vai desabar", disse Karlsen a um grupo de visitantes. "Tomara que não seja hoje." Segundo ele, é complicado atribuir o degelo integralmente ao aquecimento global. A geleira se formou há apenas 2.000 anos, quando os padrões de precipitação de neve mudaram.
Muitos moradores dizem que o frio, as nevascas e as tempestades variam de ano para ano - com ou sem aquecimento global - nesta que é a aldeia mais setentrional do mundo. Por outro lado, especialistas da ONU dizem que o Ártico está se aquecendo mais rápido que o resto do planeta por causa do aquecimento global, o que ameaça a subsistência humana e espécies como o urso polar, que dependem do gelo marinho para caçar focas.
O aquecimento é mais acelerado no Ártico porque a água e a terra, mais escuras, absorvem mais calor quando estão sem sua cobertura de gelo e neve. As geleiras estão recuando em muitas partes do mundo, seja nos Alpes ou no Himalaia, e isso pode elevar o nível dos mares nos próximos séculos.
As aves migratórias, que costumam voltar da Sibéria no final do inverno, apareceram uma semana antes do normal. Outras espécies também estão dando as caras antecipadamente, segundo moradores. O fenômeno pouco afeta as pessoas. A principal atividade da ilha é uma mina de carvão, e a comida é importada da Noruega continental, ao sul. Os prédios são construídos sobre palafitas, já prevendo eventuais degelos.
(Por Alister Doyle, Reuters, 27/04/2007)