O potencial brasileiro para a produção de energias renováveis é uma das promessas para tornar o país um dos maiores fornecedores de biocombustíveis do mundo. Nesta quinta-feira (26/04), técnicos científicos e representantes da área analisaram a viabilidade econômica e social do setor agroenergético no Rio Grande do Sul. A produção de alimentos relacionada a extração de óleos vegetais foi apontada como uma tendência mundial no uso das práticas sustentáveis. O assunto foi debatido durante a primeira audiência pública da Subcomissão para Estudos Relativos à Cana-de-Açúcar, ao Álcool e ao Etanol, em conjunto com a Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembléia Legislativa.
O gerente de projetos da empresa paulista Granol, Claudio Roberto Tonol, apresentou o Programa Nacional de Biodiesel (PNPUB), que expõe as potencialidades energéticas do Brasil e seus desafios. A demanda mundial de energia no país atinge um consumo de 346 milhões de tep (tonelada equivalente de petróleo), representando um crescimento médio anual de 2,42%. “A agroenergia é o novo paradigma da agricultura. Hoje, a produção anual de petróleo é cerca de 30 vezes maior do que a produção mundial de óleos e gorduras”, comparou Tonol. De acordo com dados do PNPUB, o Brasil possui hoje 549 milhões de potencial de área, sendo que apenas 63 milhões de hectares são aproveitados para este cultivo. “O país possui as potencialidades que o mundo precisará para se abastecer de biodiesel no futuro”, apontou. Tonol.
O cenário da produção do biodiesel no Brasil é favorável pela decorrência de diversos fatores, como produtividade, disponibilidade de novas áreas, definição de períodos climáticos e diversidades de matérias-primas, como algodão, mamona, girassol e soja – responsável por mais de 90% da produção de oleaginosas. “O incentivo a este nova tendência de produção surge como uma alternativa de geração de renda para os pequenos agricultores”, apontou o presidente da Comissão de Agricultura, deputado Adolfo Brito (PP).
Representando a Fiergs, André Cirne Lima destacou as projeções do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), de Piracicaba (SP), que apontam a capacidade de instalar dez usinas à base de cana-de-açúcar no Estado, numa área plantada de 300 mil hectares – com faturamento total de R$ 1,2 bilhão/ano. “Mas acreditamos que podemos instalar 50 usinas, com uma área plantada chegando a 1,5 milhão de hectares, com produção de 100 milhões de toneladas”, considerou.
Como empecilho ao aproveitamento de energias renováves no Brasil, o presidente do Instituto Biodiesel Nacional, Odacir Klein, apontou entraves do cenário interno – como a concorrência com diesel mineral, ações lentas do governo; e o desequilíbrio global – investimentos, tarifas, câmbios e preços.
O presidente da Fetag, Elton Weber, defendeu uma política voltada a utilização de energias renováveis pela agricultura familiar, e não somente em grandes usinas, como é feito em São Paulo atualmente. “Acompanhamos diversos projetos de produção de álcool no Estado. Estamos atentos e na expectativa da implantação de novos projetos”, disse Weber.
Para o diretor de implantação da Brasil Ecodiesel, Ricardo Alonso, a produção de biocombustíveis é uma prática sustentável que veio para ficar. A empresa tem três fábricas instaladas no Brasil, nos estados do Ceará, Piauí e Bahia. “Estaremos implantando um novo empreendimento na cidade gaúcha de Rosário do Sul”, anunciou.
A audiência pública também contou com a participação do presidente da Fepagro, Paulo Reckziegel; presidente da Oleoplan S/A, Irineu Boff; presidente do Instituto Brasileiro de Produção Sustentável e Direito Ambiental, Carlos do Nascimento; economista do Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios da Ufrgs, Omar Benedetti Santos; além de representantes da BSBIO de Passo Fundo, da Sema e da Famurs. Também estiveram na reunião os deputados Rossano Gonçalves (PDT), Aloísio Classmann (PDT), Elvino Bohn Gass (PT), Dionilso Marcon (PT) e Jerônimo Goergen (PP).
Todos os relatos e dados expostos durante a audiência pública farão parte do relatório final da Subcomissão para Estudos Relativos à Cana-de-Açúcar, ao Álcool e ao Etanol, relatada pelo deputado Heitor Schuch (PSB).
(Por Joana Colussi, Agência de Notícias AL-RS