''Arte das horas vagas, quando não tenho o que fazer na oficina'', explica o torneiro José Cândido da Silva, 41 anos, exibindo pequenas esculturas e a surpreendente montagem de um elefante mecânico, que terá movimentos, alvo de muita curiosidade em Alvorada do Sul (65 km ao norte de Londrina). Usando materiais recicláveis, ele diz que, em cada trabalho, procura passar uma informação de cunho ecológico, sugerindo a necessidade de preservação ambiental. ''Para fazer isso, a gente acaba estudando, pesquisando. Trabalho com a ecologia.''
Feito com recortes de chapas de geladeiras e colheitadeiras agrícolas (sucata), o elefante tem o tamanho de um verdadeiro, três metros de altura (da testa às patas dianteiras) por 4,5 de comprimento. Parece ''crescido'' demais, alcançando as vigas ao fundo da oficina. Aos que perguntam como vai tirá-lo de lá, José Cândido faz suspense, sem revelar que ''a cabeça sai'', não é fixa.
Não é a sua primeira produção ''zoológica''. Uma girafa e um leão, em tamanhos naturais, são motivos de exposições didáticas em escolas de Alvorada do Sul e cidades vizinhas; viraram atrações na ''Feira da Lua'' e foram incluídos em programação da Paranatur no terminal turístico de Primeiro de Maio. E já havia fabricado um ''touro mecânico'' com seis movimentos, inigualável aos que existem no mercado, segundo Osvaldo Carvalho, que fez a encomenda.
Para conhecer as características dos animais, ele recorre via internet a enciclopédias. Foi assim que pesquisou as 17 espécies de pinguim, entre as quais escolheu o imperador para emprestar a forma a uma geladeira, neste caso uma reprodução gigante, com a porta na barriga. A girafa tem apenas o pescoço flexível, que José Cândido abaixa ao transportá-la em perímetros urbanos, depois que andou rompendo fios telefônicos. Para fazê-la teve dificuldades, porque encontrou informações contraditórias. Conta que, transportando-a num reboque pela rodovia até Guaraci, despertou a atenção em todo o trajeto de 80 quilômetros.
O leão movimenta a boca e ruge, acionado pelo mecanismo de um limpador de pára-brisa de automóvel e dotado de um rádio-gravador. Com revestimento de acrílico, o formato de lata é preenchido com jornais e fibras de bananeira e de vidro.
Faz dois anos e meio que José Cândido mexe no elefante. ''Mistura de africano e asiático. Fiquei em dúvida, um tinha uma coisa que o outro não tinha e resolvi fazer os dois em um.'' Por dentro, será uma cabine com painel, banco e até uma cama para o operador, que poderá dormir ali mesmo caso não encontre hospedagem em alguma cidade durante uma exposição.
''Andando'' pelas rodas nas patas, acionadas por um motor, os movimentos da cabeça e tromba serão mecânicos, através de alavancas acionadas manualmente; a tromba vai soltar jatos de água e o barrir será ouvido em gravação. Do lado direito terá uma porta que servirá de escada e no lado esquerdo, uma saída de emergência. ''Se tombar, sempre haverá por onde sair.'' José Cândido cogitou adaptar um motor para fazer os movimentos, mas ''quando muito se fala em poluição'', decidiu pela mecânica, até para economizar combustível.
''As latas de geladeira, agora, me são doadas, uso-as na arte e no serviço'', diz José Cândido, observando que são ótimas para remendar assoalhos de carros, e o que sobra vende como sucata. ''As peças que fiz até hoje não vendi, não ganhei dinheiro com a arte, a não ser por um trabalho para o padre.'' Refere-se a um marco dos 50 anos da Paróquia. Admiradores do artista acham que o elefante tem tudo para se tornar uma atração lucrativa.
(Por Widson Schwartz,
Folha de Londrina, 25/04/2007)