O desaparecimento de mais de um quarto das 2,4 milhões de colônias de abelhas dos Estados Unidos está intrigando cientistas de todo o país, segundo reportagem do jornal "New York Times". Até agora, ninguém conseguiu explicar por que os insetos têm perdido a orientação, deixando de voltar para suas colméias. São dezenas de bilhões de abelhas desaparecidas, de acordo com estimativas dos Inspetores de Apiários da América, um grupo nacional que acompanha culturas do inseto.
Como em qualquer grande mistério, um enorme número de teorias foi apresentado, e muitas parecem mais ficção científica do que ciência. O problema já foi atribuído a modificações genéticas, torres de sinal para telefonia celular ou linhas de transmissão de alta-voltagem. Chegaram a ser mencionados possíveis planos secretos da Rússia ou de Osama bin Laden para destruir a agricultura dos EUA. Blogs na internet falaram ainda no rapto das abelhas, no qual Deus as convocaria para o céu.
O volume de explicações é atordoante, segundo a especialista em insetos Diana Cox-Foster da Pennsylvania State University. Ao lado de Jeffrey S. Pettis, um especialista do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, ela está liderando um grupo de pesquisadores que tenta descobrir respostas para explicar o "colapso da desordem das colônias", nome dado para o fenômeno do desaparecimento das abelhas.
"Existe, obviamente, urgência para resolver isso. Estamos tentando fazer tudo o mais rápido possível", disse Diana. A especialista, que participa de um encontro de dois dias com outros cientistas para discutir descobertas recentes e planos futuros com autoridades do governo, concentra-se nas hipóteses mais prováveis: um vírus, um fungo ou um pesticida. Cerca de 60 pesquisadores se debruçaram sobre as possibilidades nesta terça-feira e demonstraram preocupação diante da velocidade com que as abelhas estão desaparecendo de suas colméias.
Algumas colônias foram destruídas em menos de dois dias. De acordo com os cientistas, pesquisadores do Brasil também estão em busca de respostas para o fenômeno, assim como cientistas da Europa e da Guatemala.
"Há perdas ao redor do mundo que podem ou não estar ligadas", disse Pettis. Os pesquisadores reuniram amostras de insetos em diversos estados e já começaram a fazer autopsias e análises genéticas. Por enquanto, inimigos naturais das abelhas não parecem ser responsáveis pela desorientação dos animais.
Testes realizados na universidade de Columbia indicam que algo pode estar atingindo o sistema imunológico dos insetos. Pesquisadores encontraram fungos nas abelhas afetadas que também são vistos em humanos com AIDS ou câncer. "Isso é extremamente incomum", disse Diana Cox-Foster.
Até agora, o fenômeno foi observado em 27 estados, de acordo com a Bee Alert Technology, uma empresa que monitora o problema. Uma pesquisa recente feita em 13 estados pelo grupo de Inspetores de Apiários da América mostrou que 26% das culturas de abelha perderam metade de suas colônias entre setembro e março.
Abelhas produtoras de mel são os insetos mais importantes para a cadeia alimentar humana. Elas também são as principais polinizadoras de centenas de frutas, vegetais e flores. O número de colônias de abelhas vem caindo desde os anos 1940, ainda que as plantações que dependem delas tenham crescido.
As colônias de abelhas também têm estado sob stress nos últimos anos já que cada vez mais produtores cruzam o país com caminhões cheios de abelhas para realizar polinização. Esses insetos podem sofrer alterações em suas dietas, mas os pesquisadores descartaram a possibilidade de que alterações na dieta possam ser responsáveis pelos desaparecimentos registrados nos últimos meses.
Os cientistas dizem que respostas definitivas para o colapso nas colônias podem estar distantes, mas recentes avanços na biologia e o seqüenciamento genético estão acelerando a pesquisa. Um projeto para seqüenciar 11 mil genes de abelhas foi concluído no ano passado na Escola de Medicina de Houston, dando aos pesquisadores grande possibilidade de identificar distúrbios genéticos nos insetos.
"De outra forma, nós estaríamos procurando agulha no palheiro", disse a cientista Diana Cox-Foster.
(O Globo, 24/04/2007)