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responsabilidade social imprensa e meio ambiente
2007-04-26

O mais importante acontecimento global após o final da Segunda Guerra Mundial está se desenrolando de maneira crescente, previsível e inexorável. Algumas das conseqüências previstas são consideradas, por muitas das mais qualificadas mentes da espécie humana, como as mais graves que o homem irá enfrentar desde que seus ancestrais desceram das árvores. E a imprensa, de modo geral, ignora solenemente essa realidade.

Não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, a chamada imprensa tradicional, ou a "grande imprensa", está passando ao largo da realidade explicitada em fevereiro pelos cientistas que assinam o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, do inglês Intergovernmental Panel on Climate Change). As reportagens que se sucederam à divulgação do documento que atesta a responsabilidade da atividade humana sobre os desequilíbrios do clima abordaram amplamente o tema, porém de forma pontual e linear. O resultado é que a opinião pública ainda não se engajou na tarefa – que é de todos – de amenizar os efeitos futuros das escolhas insensatas feitas até aqui.

A imprensa tradicional brasileira, incluída a mídia dedicada a economia e negócios, segue o padrão geral. Deu ao tema espaços generosos e nobres no calor das revelações do IPCC. Depois, relegou-o à inconstância dos fatos. Um tiroteio aqui, um atentado ali, mais um estudante ensandecido massacrando colegas, outro caso de corrupção, e esquecemos que o planeta está morrendo.

Crises e vulnerabilidades
Na quarta-feira (18/4), um debate promovido pelo Instituto Ethos na sede do Instituto Itaú Cultural, em São Paulo, lançou farta luz sobre as razões pelas quais a imprensa não sabe do que trata a pauta da sustentabilidade. Foram convidados editores dos jornais Valor Econômico e Correio Braziliense, um editor executivo do Globo e o editor da edição online deste Observatório, mediados pelo proprietário da revista Imprensa e tendo como anfitrião o presidente executivo do Ethos, o empresário Ricardo Young.

O que se viu foram declarações explícitas de desinteresse, dissimulado sob platitudes assombrosas. Para a imprensa brasileira, ali representada, a sustentabilidade não está na pauta porque "os repórteres resistem a dar boas notícias das empresas [de empresas socialmente responsáveis)", ou porque "os fatos insistem em acontecer", ou porque "o jornalista é generalista, e as redações não têm como formar especialistas no assunto". Foi por aí o debate, para espanto da platéia, formada por assessores de imprensa, jornalistas ambientalistas, profissionais de organizações não-governamentais e estudantes.

Diante de manifestações de desagrado com as respostas às perguntas encaminhadas aos debatedores, um dos participantes chegou a imaginar que os assessores de imprensa presentes estariam aborrecidos porque seria de seu interesse que os jornais abrissem mais espaço para notícias de ações de responsabilidade social e ambiental de seus clientes.

O debate, rasteiro, desvela uma imprensa em inacreditável zona de conforto, considerando-se todas as crises e vulnerabilidades que a ameaçam. E revela que os jornais não cobrem o tema mais instigante e fundamental do nosso tempo porque simplesmente não se deu conta de que ele existe, é real e afeta a todos os seres humanos.

Recomendação explícita
Parece não haver na mídia uma compreensão aproximada do tema sustentabilidade, que permita aos editores colocá-la na pauta como deveria estar, ou seja, de forma transversal e permanente, cruzando todos os cadernos, como pano de fundo para praticamente todos os fatos, eventos, decisões governamentais, negócios etc.

A rigor, sustentabilidade não pode ser tratada em fragmentos. Não se trata de um assunto isolado. Trata-se de um fenômeno, que se transforma rapidamente em tendência definidora de praticamente tudo, dos negócios às políticas públicas, às relações sociais, aos problemas de segurança, saúde, educação, lazer, visão de mundo. Estamos diante de uma realidade que não permite indecisões.

Trata-se, afinal, de uma mudança radical na maneira como interpretamos a realidade. Provavelmente nunca tenhamos tido oportunidade tão soberba de experimentar uma mudança tão profunda naquilo que foi definido na expressão alemã weltanschauung, a visão de mundo, popularizada por Sigmund Freud no final de sua vida, numa reflexão profunda sobre as ilusões mais recorrentes e mais perigosas da humanidade.

A débil compreensão da imprensa sobre a questão da sustentabilidade é uma posição derivada de uma visão de mundo conservadora. A imprensa é conservadora e, quase sempre, cumpre justificadamente o papel de consolidar e preservar valores, crenças e modelos. No entanto, nem sempre o conservadorismo se justifica. Há momentos em que a imprensa precisa admitir em seu ethos algum espaço para vanguardas e rupturas. Foi assim, por exemplo, quando a imprensa brasileira, embora tivesse apoiado em peso o golpe de 1964, passou, dez anos depois, a admitir em suas páginas algumas centelhas de inconformismo, que afinal se avivaram até se transformarem na fogueira que incinerou a ditadura.

Este é um desses momentos históricos em que a imprensa deve se exigir muito mais de si mesma. O entendimento de que sustentabilidade se resume a ações "socialmente responsáveis" de algumas empresas, a "filantropia" – como foi dito no debate promovido pelo Instituto Ethos – ou a "cuidados ambientais", não honra os melhores momentos do jornalismo. Façamos alguma justiça: na mesma semana em que o evento no Itaú Cultural deixava a nu a carência do jornalismo diário sobre o tema, a Editora Abril colocava no ar o portal Planeta Sustentável, projeto do jornalista Caco de Paula, propondo-se a abrigar todo tipo de colaboração que ajude a ampliar os debates sobre sustentabilidade. Ao mesmo tempo, a empresa está recomendando a todos seus núcleos editoriais que procurem uma aproximação do tema – o que, em determinado período de tempo, acabará fazendo com que até as revistas de amenidades levem a questão da sustentabilidade ao seu público.
Convenhamos que é um passo significativo, porque representa uma escolha estratégica da direção da empresa.

Adeus às ilusões
Sustentabilidade, afinal, é uma escolha ideológica pela construção intelectual de uma percepção de realidade que rejeita ilusões. Como a idéia de weltanschauung de Freud. Resumidamente, podemos afirmar que sustentabilidade é a prática do melhor conhecimento disponível. Se o departamento de Recursos Humanos de uma empresa, ou o governo, usa práticas baseadas em conceitos de raça que estão superadas desde a metade do século passado, essas práticas não são sustentáveis. Se o departamento de engenharia de uma empresa aprova um projeto sem considerar o conhecimento disponível a respeito do efeito das grandes movimentações de terra sobre os lençóis freáticos, esse projeto é insustentável. Se, pelo contrário, ele levar isso em conta e se considerar também os efeitos da obra e sua operação sobre as comunidades em torno, ele se aproxima do conceito de sustentabilidade.

Sustentabilidade não se resume à notícia sobre a escolinha de batuque patrocinada pelo empresário bacana, que, segundo alguns editores, os repórteres resistem a cobrir. Tem a ver com tudo que nos cerca. Não é uma pauta isolada, um caderno especial, uma seção semanal, uma coluna a ser entregue à socialite letrada. É o novo fundamento de tudo que se refere à percepção da realidade – que é, em derradeira instância, o papel da imprensa.

(Por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa, 25/04/2007)


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