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transgênicos
2007-04-25
Segundo Rubens Nodari, gerente de recursos genéticos da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil está diante de “uma síndrome de ausência de estudos do impacto ambiental dos transgênicos”.

Engenheiro agrônomo com doutorado em genética pela Universidade da Califórnia, Nodari acredita que decisões sobre Organismos Geneticamente Modificados (OGM), tomadas com pressa e sem avaliação dos riscos, são reflexo do lobby de grandes empresas e de parte da comunidade científica. Nesta entrevista, ele lembra que os riscos da utilização de transgênicos já eram estimados em 1989 e afirma que não há outra forma de contrapor os interesses econômicos de uma minoria, que não através da organização da sociedade civil.

- Sabemos que muitos estudos sobre transgênicos são realizados pelas próprias empresas interessadas na exploração comercial destes produtos. Como o Conselho Nacional de Biossegurança pode garantir estudos independentes?

Rubens Nodari - Grande parte dos estudos é feita pelas empresas e, pior ainda, fora do Brasil. No caso da soja transgênica, os poucos estudos de impacto ambiental que existem foram realizados nos Estados Unidos, quando um dos princípios fundamentais das áreas de risco é que o estudo aconteça onde o OGM vai ser cultivado. Além disso, os estudos são de curta duração e poucos são efetivamente realizados. Temos aí uma síndrome de ausência de estudos de impacto ambiental dos OGMs.

- Quais os riscos já estimados da utilização de transgênicos?

Nodari - Em 1989, antes mesmo da existência dos OGM, já haviam previsões dos danos a organismos não-alvo. Eu posso fazer um algodão resistente a uma praga, mas posso causar danos a outros seres vivos. As borboletas que vão comer o néctar do algodão podem morrer, e elas não são uma praga. Existe ainda a contaminação de parentes silvestres das espécies cultivadas ou variedades das mesmas espécies. Tem um site na internet que vai registrando os casos de contaminação em várias partes do mundo. É uma questão relevante porque foi prevista, denunciada e ninguém deu importância. Além disso, muitos desses genes são indesejáveis para as pessoas. Nem todo mundo está disposto a comer uma nova proteína, que é uma toxina, como é o caso dos BTs. Essa contaminação vai prejudicar a cadeia alimentar. Você pode alterar toda a dinâmica das populações de solo, que são microorganismos benéficos às plantas. Uma nova substância introduzida no gene de uma planta, pode produzir outra, cuja decomposição pode ser tóxica. Outros efeitos já foram detectados em alguns OGMs, e por causa disso nem viraram comerciais. É o caso da alegenicidade em humanos ou da toxidade para certos grupos de risco. Mas o ponto principal é que os riscos não foram bem estudados. O principal são os efeitos não esperados. A gente não imagina o que pode acontecer. Qualquer pessoa que lida com biossegurança diria isso. Como a gente pode usar uma substância nova, em larga escala no meio ambiente e na alimentação, sabendo que os efeitos são imprevistos.

- Como se garante a isenção de quem coordena estudos sobre um tema polêmico, que envolve tantos interesses econômicos?

Nodari - Nesses últimos três anos, estamos tentando impedir que cláusulas comerciais contaminem decisões referentes ao meio ambiente. Isso já foi um esforço grande. De outro lado, estamos tendo uma perda na biodiversidade sem precedentes. Na nossa avaliação, os interesses da sociedade estão sendo contrapostos aos interesses econômicos de uma minoria, que são as empresas multinacionais. E a sociedade civil não está ainda organizada para impedir o lobby destas grandes empresas. Elas têm dinheiro, têm estratégia e têm estrutura. O Congresso Nacional é o reflexo do lobby das empresas e de parte da comunidade científica, que querem um afrouxamento geral no rigor e nas normas, para a adoção imediata e irrestrita de OGMs no Brasil. A sociedade está no aguardo, sem saber como se defender. Não vejo outra forma de contrapor os interesses econômicos de uma minoria, que não através da organização da sociedade civil. Os transgênicos estão entrando, a soja entrou clandestinamente. A estimativa é que de 10% a 20% da área do País está plantada com algodão ilegal, e milho também. Nós não temos competência para fiscalizar. Se a fiscalização não é eficiente e a sociedade civil não reage, os transgênicos avançam.

- De que forma o estímulo à recuperação de sementes crioulas pode ser uma reação aos transgênicos?

Nodari - Nós temos um mandato constitucional que é de conservação da nossa biodiversidade. E as variedades crioulas são os componentes desta biodiversidade. O MMA faz esforços neste sentido, ampliando programas de comércio de espécies nativas, como a jabuticaba ou a goiabeira serrana. Os pequenos agricultores ainda possuem um conjunto muito grande de sementes crioulas, de milho, de feijão, de arroz, espécies frutíferas, de temperos e hortaliças. Nós começamos, em 2003, os Centros Irradiadores do Manejo da Agrobiodiversidade. Estamos conseguindo contemplar iniciativas coletivas, projetos comunitários ao redor do País, que resgatam, que usam as sementes de forma sustentável. E que realizam trocas destas sementes com outras comunidades. Já temos onze projetos funcionando. Até o final do ano serão 23. Se os transgênicos vierem, vão contaminar essas variedades. Então, todo o esforço de resgate e conservação – e mesmo a questão cultural dos agricultores – será condenado.

(Permacultura Latina, 16/04/2007)


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