O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirmou ontem (24/04) que o governo prepara um instrumento da certificação para provar quais são os locais que produzem cana-de-açúcar de maneira ambientalmente sustentável. “Evidentemente vão ser usados uma série de critérios e um deles é a recuperação do meio ambiente”, destacou. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estuda a criação dessa certificação para produtores de álcool. O ministro considera esse mecanismo importante para que os produtores brasileiros de álcool atinjam novos mercados de exportação.
Stephanes enfatizou ainda que o aumento da plantação de cana-de-açúcar no Brasil para produzir etanol não vai gerar degradação ao meio ambiente. “Não tenho nenhuma preocupação. Vamos possivelmente dobrar nossas áreas de plantio e mais do que dobrar a nossa produção, sem que isso desrespeite o meio ambiente. Acho que não vai haver a derrubada de nenhuma árvores para isso”, disse.
Segundo o ministro, o Brasil pode recuperar e usar áreas degradas para plantar cana-de-açúcar. “Temos muitas áreas degradadas que precisam ser recuperadas e plantando cana-de-açúcar podemos recuperar. Devemos ter hoje 30 a 40 milhões [de hectares] de áreas degradadas que precisam ser recuperadas. Para dobrar nossa produção de álcool, precisamos de 10 a 15% de áreas degradadas”, afirmou.
Para o técnico de Economia e Mercado do Departamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais, Marcos Antônio de Oliveira, a produção de biocombustíveis no país pode gerar concentração de terras, intensificação do êxodo rural, e degradação ambiental. “Historicamente sempre teve um processo de valorização dos preços da terra, concentração fundiária, mudanças nas comunidades locais, em detrimento de uma agricultura que pensa na pluralidade, no respeito ao meio ambiente. Não há motivos para crer que vai ser diferente”, argumentou Oliveira.
Em entrevista recente, o ex-ministro Roberto Rodrigues, que hoje é presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e co-presidente da Comissão Interamericana de Etanol, disse que dos 62 milhões de hectares cultivados no Brasil, 3 milhões destinam-se à cana de açúcar para produção de etanol. Sua estimativa ainda aponta que outros 220 milhões de hectares de pastagens, dos quais 90 milhões são aptos para a agricultura – destes, 22 milhões para cana de açúcar e 68 milhões que podem ser usados na produção de alimentos.
A discussão do etanol ganhou peso nos últimos tempos após as conversas entre o presidente norte-americano George W. Bush com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva para aumentar a produção da substância para adicioná-la à gasolina e ajudar a reduzir a dependência do petróleo.
(Por Kelly Oliveira, da
Agência Brasil, 24/04/2007)