Os esforços da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, para selar, na cúpula de junho do Grupo dos Oito (G8), um acordo internacional de combate às mudanças climáticas enfrenta a resistência dos EUA, indiciou uma autoridade alemã na terça-feira (24/04). Os comentários, feitos pelo enviado do G8 Bernd Pfaffenbach, sugerem que Merkel se depara com uma difícil missão diplomática nas próximas semanas, a fim de convencer os americanos a dar apoio ao acordo que a dirigente espera transformar na peça central de seu período na Presidência do G8. Feitas diante de um pequeno grupo de repórteres reunido em Berlim, as observações de Pfaffenbach parecem ter por objetivo aplacar as expectativas sobre a assinatura do acordo durante a cúpula marcada para acontecer entre os dias 6 a 8 de junho, no balneário de Heiligendamm (à beira do mar Báltico).
E visariam também a aumentar a pressão sobre o governo dos EUA antes de um encontro, previsto para segunda-feira, 30, entre Merkel e o presidente George W. Bush. "Essa vem se mostrando uma das minhas áreas mais difíceis nas negociações", disse Pfaffenbach, a respeito da questão do aquecimento da Terra. "Isso se deve parcialmente às reservas, se não à resistência, de um grande país em particular", acrescentou, manifestando um sentimento de frustração quanto às negociações pré-cúpula. Apesar de tomar cuidado para não mencionar diretamente o nome dos EUA, o enviado deixou claro que se referia aos americanos.
Tradicionalmente, o governo Bush, que não assinou o Protocolo de Kyoto (um acordo sobre as mudanças climáticas), reluta em comprometer-se com metas de corte na emissão de gases do efeito estufa, acusados de provocar a elevação do nível dos oceanos e um aumento no número de secas e enchentes. Merkel, que ocupa atualmente as Presidências rotativas do G8 e da União Européia (UE), vem apostando em sua boa relação pessoal com Bush, e na crescente preocupação da opinião pública com os riscos do aquecimento global, para ajudá-la a dobrar os EUA.
A Alemanha também convidou países que não fazem parte do G8 (Brasil, China, Índia, México, África do Sul) a participar da cúpula, garantindo assim que estejam presentes países responsáveis por quase 90% das emissões globais. Pfaffenbach citou um acordo patrocinado por Merkel em uma cúpula do mês passado, ocorrida em Bruxelas. Pelo acordo, a UE (integrada por 27 países-membros) compromete-se a reduzir as emissões de dióxido de carbono em 20% até 2020, e a ampliar o uso de fontes renováveis de energia. "Ela deseja internacionalizar o máximo possível esse acordo", afirmou o enviado.
A chanceler deve encontrar-se com Bush, em Washington, na segunda-feira, a fim de assinar um acordo UE-EUA para coordenar os padrões de regulamentação do comércio e para derrubar barreiras ao comércio que não sejam as tributárias. Os dois líderes devem discutir também as questões energética e ambiental. Diplomatas afirmam, no entanto, que o governo americano continua resistindo às pressões da UE para divulgar uma declaração conjunta e contundente a respeito das mudanças climáticas.
(Por Gernot Heller,
Reuters, 24/04/2007)