Tecnologia da célula a combustível, já amplamente testada em carros, começa a ser experimentada em várias motocicletas. As pesquisas para desenvolver veículos não poluentes, abastecidos com combustível renovável, avançam em várias áreas. O preço do petróleo e o aquecimento global também aceleraram extraordinariamente os estudos.
Uma das tecnologias que mais prosperaram é a da célula a combustível, inicialmente usada nos automóveis, mas que também está chegando às motocicletas. É o caso do modelo experimental, Yamaha FC-me, em desenvolvimento no Japão, desde julho de 2003, quando foi apresentado no Salão de Tóquio. Trata-se de um scooter, que, em vez da tradicional e poluente gasolina, consome água e o renovável metanol. Como em um passe de mágica, o modelo não produz fumaça pelo escape (que, aliás, nem é necessário), agredindo o meio ambiente, mas apenas o inofensivo vapor de água.
O milagre é obtido em uma reação química entre hidrogênio e oxigênio, que produz eletricidade, que, por sua vez, é utilizada para movimentar o scooter, além de vapor de água, como subproduto.
Fábrica
A dificuldade é que o hidrogênio não é encontrado puro na natureza. Assim, a tecnologia da célula a combustível (ou fuel cell), nada mais é do que uma pequena fábrica de hidrogênio embarcada. No caso do experimental FC-me, a transformação é feita a partir do metanol, para abastecer de energia o motor elétrico que vai impulsionar o scooter. Uma operação casada, complexa e cara, que, por enquanto, ainda exige mais espaço e baterias que dificultam a logística e inviabilizam a produção comercial. Entretanto, o constante desenvolvimento vai derrubando essas barreiras e, brevemente, esse tipo de veículo não vai ser raridade.
Com larga capacidade de produção desse combustível, o Brasil também pode se beneficiar diretamente. O próprio scooter FC-me utiliza o sistema DMFC (direct methanol fuel cell), que reduz as dimensões e otimiza a reação química, melhorando a performance. O desempenho do FC-me é comparável ao de um scooter tradicional de 50 cm³. A própria Yamaha apresentou, em outubro de 2006, o modelo FC-AQEL, durante o 22º International Battery, Hybrid and Cell Eletric Vehicle Symposium de Yokohama, no Japão. O modelo era baseado no FC-me, com desempenho semelhante ao de um scooter de 125 cm³.
Assombrado
Olhando o FC-me, batizado assim em função das iniciais de fuel cell e methanol (apresentado durante uma visita técnica à fábrica e sede da montadora em Iwata, no Japão, em setembro de 2006), não difere muito dos scooters tradicionais, a não ser pelo maior volume de componentes mecânicos sob o quadro.
O motor, porém, não faz barulho, já que, no final das contas, é movido a eletricidade. O curioso é que o ruído vem do processo químico, que continua mesmo depois do scooter desligado, como se estivesse assombrado. Um dos engenheiros responsáveis por seu desenvolvimento explicou que a reação química não cessa imediatamente. O FC-me é um veículo urbano e, apesar das baterias e dos componentes adicionais, o peso a seco é de 69 kg. A autonomia do tanque, abastecido com água e metanol, é de 100 quilômetros, a uma velocidade de 30 km/h.
Rodas e suspensões são como as dos scooters tradicionais. Apenas o quadro é especial, para abrigar o maior número de componentes.
(Por Téo Mascarenhas, Correio Braziliense, 24/04/2007)