O plano de irrigação do governo Yeda Crusius começa a sair do papel, mas a carência de recursos próprios do Estado e a dependência de verbas federais ainda torna incerto o cumprimento das metas. A construção de 9 mil microaçudes por ano para a agricultura familiar é um dos objetivos do programa que podem não sair do papel.
Na quinta-feira (26/4), o Estado e a União assinam o convênio para construção de duas grandes barragens na Metade Sul - nos arroios Taquarembó e Jaguari. A expectativa é de que já exista o empenho de R$ 88 milhões do governo federal, garantindo as obras anunciadas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A quantia permitiria a imediata abertura de licitações e início das construções para irrigar cerca de 80 mil hectares de terra.
- O ministro (da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima) disse que a intenção é fazer o empenho junto com a assinatura do convênio. Também apresentamos a ele os projetos de mais barragens, que irrigariam uma área de até 250 mil hectares - diz o deputado federal Eliseu Padilha (PMDB-RS).
A ação prevista no plano e já iniciada é o treinamento de técnicos da Emater. Recém-formados no curso básico de irrigação, 43 profissionais agora saem da sala de aula com a meta de repassar o conhecimento para outros 450 técnicos, que orientarão cerca de 9 mil agricultores ao ano. Cento e quatro municípios gaúchos já se dispuseram a participar do processo.
- Os instrutores treinados começarão a capacitar os agricultores, que podem se dirigir aos escritórios da Emater e manifestar o seu interesse - afirma José Enoir Daniel, técnico em irrigação da Emater.
As incertezas do projeto passam pelos R$ 9,5 milhões que a Secretaria de Irrigação conta receber do Ministério da Integração Nacional para compra de equipamentos. O dinheiro, porém, ainda não foi liberado. O plano B é utilizar apenas máquinas da Secretaria da Agricultura. Procurado, o Ministério da Integração Nacional não se pronunciou sobre o assunto.
- Se não contarmos com equipamentos exclusivos, teremos de mudar o fluxograma: em vez de fazermos 9 mil açudes por ano vamos fazer 4,5 mil - diz o secretário de Irrigação, Rogério Porto.
Sem depender do governo
Quando decidiu diversificar as atividades em sua propriedade rural, montando um sistema de irrigação para produzir hortigranjeiros hidropônicos (sem contato direto com a terra), o engenheiro agrônomo Hideki Tanabe, 48 anos, optou por juntar economias próprias para não depender de subsídios do governo. A falta de um programa de incentivo e a lentidão na liberação dos recursos foram, segundo o agricultor, razões para o investimento pessoal.
Quase uma década depois, Tanabe, morador de Mato Castelhano, no norte gaúcho, mantém a mesma opinião. Na sua propriedade, alface, agrião, rúcula e outras verduras são produzidas em estufas com um sistema de canalização que garante a irrigação permanente. Tanabe tem, ainda, irrigação por aspersão para hortigranjeiros, que está sendo testado na produção de flores.
- Seria muito bom se tivéssemos incentivos do governo. Mas é melhor não depender disso - recomenda Tanabe.
O número
A meta do governo é irrigar no mínimo 360 mil hectares de terra em quatro anos
Como está o plano
Abaixo, vejo as etapas já iniciadas e o que ainda deve ser feito:
O que já começou
Nas últimas semanas, 43 engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas da Emater fizeram o curso básico de irrigação. Em cada uma das 10 regionais da empresa, eles treinarão mais 45 técnicos, entre colegas e profissionais de prefeituras, cooperativas e sindicatos.
A intenção é que esses 493 técnicos repassem as informações sobre o tema a 9 mil agricultores por ano na tentativa de que implantem projetos privados de irrigação.
O que vai começar
O governo do Estado e o governo federal assinam na próxima quinta-feira convênio para dar início ao processo de construção de barragens nos arroios Taquarembó e Jaguari, na bacia do Rio Santa Maria.
A União liberou R$ 88 milhões dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para as obras. A partir da assinatura do convênio saem as licitações e para novembro está previsto o início da obra.
Em ritmo de espera
A Secretaria de Irrigação previa um mutirão para construção de açudes, mas isso ainda não será possível porque os R$ 9,5 milhões para compra de máquinas ainda não foram liberados pela União. Com o dinheiro, seriam adquiridos os seguintes equipamentos:
> 20 retroescavadeiras e cinco poclain (escavadeiras de grande porte)
> três tratores de esteira
> quatro caminhões
(Por Sebastiao Ribeiro e Cleber Bertoncello, Zero Hora, 23/04/2007)