Um dos afluentes do Rio Gravataí, o Arroio da Areia, na zona norte de Porto Alegre, está escondido sob o lixo. No trecho próximo ao km 90 da freeway, é possível ver o tapete de garrafas plásticas, embalagens de comida, pedaços de móveis e até uma geladeira.
O problema está associado ao crescimento da Vila Dique, que começa próximo à Avenida Sertório e vai até a rodovia. Segundo o Departamento Municipal de Habitação (Demhab), a vila é ocupada por 1,1 mil famílias. Grande parte sobrevive do recolhimento de material reciclável. O que se vê em volta aos casebres é lixo, entulho e esgoto a céu aberto. Nesse cenário, crianças convivem com cães, porcos e galinhas.
O arroio é apontado como um dos grandes poluidores do Rio Gravataí.
- A situação está cada vez pior. As pessoas da vila vivem do lixo e da criação de porcos. O que não aproveitam é jogado na água. O esterco de um porco equivale ao esgoto de 15 pessoas - diz Paulo Müller, presidente da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Gravataí.
Rosângela Leal, vice-presidente da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis da vila, diz que jogar lixo no arroio é a última alternativa:
- Como o caminhão que recolhe o lixo não passa todos os dias, as pessoas acabam jogando no arroio por não ter mais onde colocar.
A expectativa da prefeitura é de que o problema seja solucionado com a transferência dos moradores, prevista para 2008.
Fizemos duas remoções do lixo superficial em 2006. Dentro de duas semanas, vamos fazer de novo. Pretendemos também fazer a dragagem do arroio. É um serviço terceirizado e precisa de licenciamento ambiental, que está em trâmite. A licitação deve ficar pronta em 40 dias.
O que diz Francisco Pinto, diretor da divisão de conservação do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP):
Fizemos duas remoções do lixo superficial em 2006. Dentro de duas semanas, vamos fazer de novo. Pretendemos também fazer a dragagem do arroio. É um serviço terceirizado e precisa de licenciamento ambiental, que está em trâmite. A licitação deve ficar pronta em 40 dias.
Projeto para remoção de vila está pronto
O projeto da prefeitura da Capital para remoção das vilas Dique e Nazaré, na Zona Norte, foi finalizado na sexta-feira. As 1,5 mil famílias serão transferidas para permitir a ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho. Segundo o diretor-geral do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), Nelcir Tessaro, o projeto será enviado à Caixa Econômica Federal hoje, para análise técnica.
- Depois, será fechado o convênio de R$ 31,5 milhões com o Ministério das Cidades. O convênio deve ser assinado até o dia 15. E a licitação, concluída até o final de julho - diz.
O compromisso com a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) é que a área seja liberada até a metade de 2008.
O projeto chegou a ser concluído em setembro, mas precisou ser modificado em função de novas exigências do governo federal. As famílias irão para uma área próxima ao Porto Seco, com 208 mil metros quadrados, onde haverá praças, escola, posto de saúde e centros comunitário de triagem de lixo.
Um rio castigado pela poluição
Com mão sobre o ombro do filho Joilson, sete anos, e a outra no leme do barco Cris Lu, Gilson Alves, 33 anos, contava para o menino que, nos seus tempos de guri, ele pescava traíras e jundiás no encontro do Rio Gravataí com o Arroio da Areia. O olhar do filho era de descrença. É difícil acreditar que naquela água fedorenta, onde flutuam lixo e carcaças de bichos, um dia existiu vida.
Membro da Associação para Pesquisa de Técnicas Ambientais (APTA), Alves navega nos fins de semana por rios da região. O Gravataí nasce limpo no Banhado Grande, percorre 39 quilômetros, por nove municípios, e deságua no Guaíba.
- Aqui o rio já chega morto (no limite Canoas com Porto Alegre) - comentou José Martins Braginskas, 65 anos, vice-presidente da APTA, ONG que há uma década se dedica à limpeza do rio.
Ele diz saber que a poluição industrial e o esgoto são os grandes responsáveis pela morte das águas, mas lembra que parte da sujeira é provocada por pessoas que atiram o lixo no Gravataí ou em seus afluentes, como o Arroio da Areia.
(Por Mirella Nascimento e Carlos Wagner, Zero Hora, 23/04/2007)