A salvação da lavoura brasileira está nos transgênicos, com transformação de plantas comuns em espécies resistentes ao calor e à falta de água, afirmaram os agrometeorologistas Hilton Silveira Pinto, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Eduardo Assad, da Embrapa Informática. Sem isso, o aquecimento global provocado pelo aumento de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera fará um estrago gigantesco na agricultura em 50 anos, quando a temperatura média, segundo as previsões, subirá três graus. O café arábica, por exemplo, vai desaparecer de Minas Gerais e São Paulo e o deslocamento de culturas, que já está em curso, será mais acelerado. "Não teremos como fugir dos transgênicos", diz Assad.
O desenvolvimento de espécies resistentes ao calor já está em curso. O Japão, por exemplo, anunciou no início do mês que vai desenvolver arroz resistente ao calor e ao estresse hídrico para fazer frente ao aquecimento do planeta. "Temos uma flora fantástica para ser investigada e selecionada no cerrado e na caatinga. É preciso ter os genomas seqüenciados para encontrar o gene que confere a resistência ao calor e transferi-lo para outras culturas. Aí teríamos café, soja, milho que, daqui a 50 anos, poderiam continuar sendo plantados no Estado de São Paulo", comentou Assad.
Ele lembrou que a Embrapa Cerrado, em parceria com o Jardim Botânico da Inglaterra, fez um levantamento e encontrou 38 plantas no cerrado que se repetem em mais da metade da área. Em 204 milhões de hectares foram encontradas plantas generalistas que resistem a chuvas de 600 a 2 mil milímetros e a temperaturas de 24 a 27 graus centígrados. São plantas com capacidade de adaptação muito grande.
"Precisamos seqüenciar o genoma dessas plantas e identificar o gene que confere essa resistência ao calor. Essa é uma solução de longo prazo, porque levaríamos de 30 a 40 anos para seqüenciar, identificar o gene, transplanta-lo e ter uma planta modificada", afirmou. Esse é o tempo em que se estima que a temperatura, com uma elevação de 3 graus, fará estragos na agricultura brasileira.
Entre as plantas resistentes estão o pau preto de folha grande, o pau preto de folha miúda, a sucupira preta, pacari e favero. "Essas plantas valem ouro", disse. Para o diretor associado do Centro de Pesquisa Aplicada à Agricultura (Cepagri), Hilton Silveira Pinto, os transgênicos serão a salvação da lavoura. "Não teremos muito como fugir disso porque se os cenários de aquecimento global que estão sendo traçados para os próximos 50 ou 100 anos, com elevação na temperatura em até 5,8 graus, se confirmarem, o impacto na agricultura será imenso", comentou. Para ele, é importante saber que existem alternativas e que a elevação na temperatura não será o fim do mundo.
(Por Maria Teresa Costa, Agência Anhangüera, 22/04/2007)