Os técnicos afirmam que o processo equilibrado entre os componentes arbóreo, forrageiro/agrícola e animal ocorrem em harmonia pelos espaçamentos entre as árvores, o que provoca uma diminuição na competição entre as espécies. Esse fator é primordial para uma produção eficiente com eucaliptos integrada a outras culturas e sem causar danos ao campo nativo.
Com a proposta de avaliar a produção forrageira, o grupo de estudos apresentou dados sobre a importância da análise de espécies forrageiras que estão integradas com florestas. De acordo com pesquisas recentes pode-se obter produções melhores, tanto em quantidade de forragem como em qualidade com algumas espécies. Para o professor da Uergs, engenheiro agrônomo Gustavo Martins da Silva, as árvores são indicadas como benéficas para a produção de forragens por uma série de fatores, entre eles: reciclagem de nutrientes; maior evapotranspiração de plantas forrageiras herbáceas; manutenção de uma temperatura mais estável e maior infiltração de água no solo. Mesmo assim, o professor ressalta a importância de uma maior avaliação sobre os impactos nos ecossistemas, como o Bioma Pampa. Para ele é necessário esse estudo porque, com a produção de eucaliptos em uma vegetação desprovida de árvores, é valioso saber como as espécies irão reagir. “Há inúmeros benefícios, porém existe a questão da menor insolação, que pode prejudicar a produção, causando alguns reveses.
Por isso estamos reunidos para estudar e debater sobre todos esses aspectos”, declarou Martins. Para o pesquisador da Embrapa, Alexandre Varella, um dos fatores fundamentais para a produção de forrageiras, além dos espaçamentos entre as árvores, é a luminosidade recebida. “A irradiação é o elemento que mais determina a produtividade, bem como a composição botânica e a qualidade das pastagens”, informa o pesquisador. Varella comentaque algumas alternativas podem ser feitas pelo produtor para a integração floresta – lavoura –pecuária a partir do primeiro ano,destacando: técnicas de manejo, como desrama das árvores e utilização de forrageiras mais tolerantes ao sombreamento já identificadas pela pesquisa científica, aliadas à manutenção de um sistema equilibrado com menores densidades arbóreas.
A previsão do recém - formado grupo de estudos é conduzir periodicamente dias de campo para debates, como também conduzir ações em conjunto para estudos e análises da produção agrossilvipastoril na região da Campanha.
O produtor Miguel Bonotto observou, com a experiência agrossilvipastoril realizada em sua propriedade, que os animais obtiveram conforto dentro das florestas. Houve grande oferta de pastagens; ocorreu manutenção da lotação; algumas dificuldades no manejo sanitário de ovinos no verão; melhor aproveitamento das áreas que não foram plantadas com árvores e apossibilidade de limpeza de vegetação dentro da floresta.
Produtor de Olhos D’ Água apresentou experiência agrossilvipastorilA tarde de campo, realizada no dia 18 de abril, na Chácara São Miguel, localidade de Olhos D’ Água, em Bagé, de propriedade de Miguel Bonotto, confirmou o interesse de produtores rurais, pesquisadores, técnicos e estudantes sobre o cultivo de espécies florestais. O evento foi a primeira ação do Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Sistemas Agrossilvipastoris formado por entidades como a Embrapa Pecuária Sul, Emater RS/Ascar, Uergs, Urcamp, Associação e Sindicato Rural de Bagé, Aciba, Associação Bageense de Engenheiros Agrônomos, Crea/RS e Cooplantio. Mais de 100 pessoas observaram e debateram os sistemas agrossilvipastoris tendo como exemplo a experiência realizada na propriedade de Miguel Bonotto.
O produtor cultiva, há um ano e meio, árvores em sua propriedade. São 60 hectares para o plantio de eucaliptos híbridos, mais resistentes à seca e que fazem parte do programa Poupança Florestal da Votorantim. O cultivo atende, segundo os técnicos do grupo de estudos, as expectativas de um sistema agrossilvipastoril abrangente, já que estão localizados em fileiras com espaçamento de 4 metros cada, sendo 1,5 metro para cada árvore.
Com esses espaços o produtor pôde otimizar a sua produção consorciando a agricultura e a pecuária de corte com o florestamento. O produtor plantou inicialmente milho, obtendo em seis meses uma produtividade de 50 sacos por hectare. Em abril de 2006 foram colocados 200 ovinos que ficaram até o período de parição em julho. No início da primavera, foram introduzidos bovinos de corte.
Os resultados parciais já indicam o êxito na experiência. Conforme o produtor, não houve prejuízos. “Eu plantei arroz durante 20 anos, mas nos últimos anos comecei a ter muitos prejuízos. Já com a plantação de eucaliptos, além de uma melhora na produção, eu pude empregar mais pessoas”, conta Miguel Bonotto.
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Jornal Minuano, 20/04/2007)