A América Latina seria a região do globo mais atingida por um eventual aumento de preços em conseqüência da produção acelerada de biocombustíveis, afirma nesta sexta-feira (20/04) o jornal americano The Christian Science Monitor. “Executivos da indústria de frangos, que viu subirem os preços das rações; consumidores mexicanos, que enfrentaram um salto de 60% no preço das tortillas (o tradicional pão de milho); e até ambientalistas preocupados com a quantidade de fertilizantes necessária às colheitas extras questionam se o etanol vai beneficiar ou prejudicar as economias latino-americanas", diz o texto.
Segundo o jornal da cidade de Boston, a demanda por matérias-primas de biocombustível elevou em quase 50% o preço do milho no país entre agosto e dezembro do ano passado. Se a inflação dos produtos agrícolas deve ser pouco sentida por americanos – que gastam cerca de 7% de seu orçamento com alimentação –, a alta dos preços afetará fortemente países como México, cuja população destina um quarto de sua renda mensal para o mesmo fim, diz o CSM.
Por esse motivo, diz o diário, o tema tem dividido líderes latino-americanos.
Os presidentes venezuelano, Hugo Chávez, e cubano, Fidel Castro, condenam a iniciativa brasileira de produzir etanol em larga escala, em parceria com os Estados Unidos. A reportagem chama atenção para o fato – apontado por Chávez durante o encontro da Comunidade Sul-Americana de Nações em Porlamar – de que os modelos americano e brasileiro são distintos, porque um utiliza açúcar e outro, milho na fabricação do etanol. Para Chávez, o modelo brasileiro não ameaçaria a produção de alimentos.
'Não tão verdes'
De um prisma ambiental, o jornal francês Le Figaro aborda o tema em matéria intitulada "Biocombustíveis não tão verdes". A reportagem noticia a carta aberta divulgada em Madri, na Espanha, em que cerca de 200 entidades ambientalistas expressam sua preocupação com a destinação de terras aráveis para produção de energia - o que poderia, no seu entender, gerar danos ambientais e conflitos de terra. "Os biocombustíveis poderiam contribuir com os planos de reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa. Mas a que preço?", questiona o matutino parisiense.
Em março, a Comissão Européia, o braço executivo do grupo de 27 países, estabeleceu que pelo menos 20% de toda a energia consumida pelo bloco devem ser provenientes de fontes renováveis até 2020. Entre as medidas, a CE determinou que 10% dos combustíveis consumidos pelos automóveis de cada país sejam biológicos. Mas a França quer atingir este objetivo mais rápido, até 2015, disse o Fígaro.
(BBC, 20/04/2007)