O mundo terá de cortar em 80% suas emissões de gases do efeito estufa até 2050, uma meta superior à prevista, para ter chance razoável de conter o aquecimento global, disseram pesquisadores nesta quinta-feira (19/041). Mesmo as metas ambiciosas de longo prazo adotadas pela União Européia, ou pela Califórnia, ficam aquém do necessário para evitar um aumento de 2º Celsius nas temperaturas médias do planeta em relação à era pré-industrial, taxa que a UE considera o limiar das "mudanças perigosas" no clima terrestre, segundo os cientistas.
"Se quisermos ter 50% de chance de cumprir a meta dos 2º C, temos de cortar as emissões globais em 80% até 2050", disse Nathan Rive, do Centro para Pesquisas Climáticas e Ambientais Internacionais, em Oslo. "Qualquer atraso na implementação das reduções das emissões tornará a meta dos 2º C praticamente inalcançável", escreveram ele e seu colega Steffen Kallbekken, em artigo na revista Climatic Change.
A UE considera que haveria alterações perigosas no clima, como mais secas, ondas de calor, enchentes e aumento do nível dos mares, caso o aquecimento médio supere os 2º C. Ao longo do século 20, a temperatura média subiu 0,7º C. Para que haja uma redução de 80% nas emissões de gases do efeito estufa, os países ricos, responsáveis pela maior parte das emissões em usinas, fábricas e veículos, teriam de cortar suas emissões em cerca de 95% até 2050, em relação aos níveis de 2000.
Já os países em desenvolvimento, como Brasil, China, Índia e Indonésia, onde as emissões crescem mais, poderiam fazer cortes menos ambiciosos, levando em conta que precisam de energia para alimentar suas economias e retirar milhões de pessoas da pobreza. "Mesmo as propostas mais ambiciosas para reduções de emissões em 2050, como o projeto de lei climática no Reino Unido, que estabelece um corte de 60%, ou a meta da Califórnia de reduzir as emissões em 80% até 2050, ficam aquém do necessário", disseram os autores do artigo.
O texto preliminar de um relatório da ONU, a ser divulgado no dia 4 de maio, em Bangcoc, também conclui que será difícil conseguir que o aquecimento não passe dos 2º C. Restrições nas emissões consistentes com essa meta custariam até 3% do PIB mundial. Pelo Protocolo de Kyoto, 35 países industrializados teriam de reduzir suas emissões, até 2012, para um nível 5% inferior ao de 1990.
Os Estados Unidos, maiores poluidores mundiais, abandonaram o plano, alegando que ele seria nocivo à sua economia e que não deveria excluir os países em desenvolvimento. As negociações na ONU para prorrogar o Protocolo de Kyoto após 2012 estão paralisadas. Os países em desenvolvimento dizem que não podem limitar suas emissões, já que o uso da energia foi essencial para o crescimento econômico das nações ricas desde a Revolução Industrial.
(Por Alister Doyle, Reuters, 19/04/2007)