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política ambiental brasil
2007-04-20
Por Ney Gastal*

A governadora Yeda escolheu sua secretária do Meio Ambiente guiada por um dos mais nobres sentimentos: a amizade. Para isto contrariou até mesmo seu próprio partido e nomeou a amiga Vera Callegaro (e esposa do ainda mais amigo Carlos) para a SEMA, "queimando" neste processo uma de suas indicações da "cota pessoal", coisa raramente feita com alguém do próprio partido.

A governadora Yeda tinha poucos contatos na área ambiental, e não sabia o que estava fazendo. Vera fez parte permanente do grupo do PSDB que durante o governo Rigotto dominou a SEMA por três anos - e três diferentes secretários - consecutivos. Há quem credite o desmonte da Secretaria, contribuindo para o agravamento brutal dos problemas na Fepam, ao PSDB. É uma conclusão simplista. Todos os partidos têm pessoas apropriadas e inapropriadas para determinados cargos. A escolha de três secretários que não estavam nem aí para a questão ambiental (os três eram candidatos a algum cargo eletivo e viam no status de secretário um mero trampolim eleitoral) pode ter sido um equívoco partidário, mas não significa, necessariamente, que o PSDB seja contra o meio ambiente.

Mas se errar é humano (e, portanto, partidário), persistir no erro é outra coisa. Um grupo que esteve três anos à testa de uma secretaria, gastando todo este tempo debatendo uma reestruturação que não saiu do papel e, com isso, travando as atividades de todo o setor e dos órgãos associados, não poderia, jamais, conquistar novamente a mesma secretaria, em um novo governo que se pretende empreendedor.

Agora, em conseqüência deste equívoco, a governadora vê-se frente a um problema que ela mesmo criou, ao desrespeitar uma antiga norma da arte da administração: "Nunca contrate a quem não poderá demitir". Quem quer que fosse o titular da SEMA, neste momento, depois de tudo o que já aconteceu, teria sido há muito exonerado por Yeda. A atual secretária, depois das absurdas entrevistas na TV, depois do vexame da reunião na Fiergs na semana retrasada, depois de tudo, enfim, continua porque é amiga da governadora. E a amizade é um dos mais nobres sentimentos humanos.

Sem perder tempo em grandes digressões, há um gráfico publicado em Zero Hora desta segunda-feira, dia 16 de abril, que deixa as coisas claras e cristalinas. Vejam:

Trata-se do número de licenças emitidas pela Fepam ao longo dos últimos anos. Observem bem. Em 2003, primeiro ano do governo Rigotto e gestão do secretário Wenzel na SEMA (apesar de também estar mais interessado na eleição para a prefeitura de Santa Cruz do Sul do que na SEMA, Wenzel era da área e valorizou as direções dos órgãos subordinados), o número de licenças emitidas se recupera, e a linha sobe. Mas em 2004 e 2005, a linha descendente é constante, resultado da absoluta desarticulação da SEMA e do esvaziamento da atenção dada às direções da Fepam, DEFAP, DRH, FZB. E não me venham dizer que a queda é resultante da ampliação do prazo de validade das licenças. Se assim fosse, baixaria o número das licenças represadas , o que não aconteceu. Foi o período em que a SEMA (e subordinadas) foi completamente esvaziada. Foi o período em que a atual Secretária, apesar de ainda não ser a secretária, consolidou seu poder.

Em 2006 o PSDB deixou o governo para lançar candidatura própria e o grupo que vinha "administrando" (?) a SEMA foi defenestrado. A entrega da secretaria para o PMDB não significou que este partido tivesse mais interesse pelo assunto, fosse "melhor", ambientalmente. Significou, apenas, que Rigotto pode enfim nomear alguém conhecedor e interessado na área, Claudio Dilda, que há três anos estava amarrado na presidência da Fepam, sem liberdade para agir.

Resultado: em um ano o número de licenças voltou a crescer. Mas um ano foi pouco tempo para concluir o processo e em 2007 a SEMA voltou ao domínio do mesmo grupo que havia criado a confusão. O resultado está aí.

Zero Hora do dia 18 de abril, à página 3 (transcrita abaixo), registra o que todo mundo já sabe: a preocupação de Yeda com o setor. Depois de desprezar sugestões que vinham desde de líderes ambientalistas até líderes empresariais, para que mantivesse Dilda à frente da secretaria, para que que ele pudesse concluir o trabalho iniciado, a governadora vê-se agora frente à constatação de que cometeu um equívoco. Um equívoco de difícil correção, pois lida com questões pessoais, de amizade. E a amizade, se sabe, é um dos mais nobres sentimentos humanos.

Como Yeda irá se safar desta situação?

Neste momento, creio que nem mesmo ela sabe...

Transcrição de Zero Hora:

Cartão amarelo
Em reuniões com a secretária do Meio Ambiente, Vera Calegaro, a governadora Yeda Crusius tem feito duras cobranças. Yeda exige que a Fepam, órgão que dá licença ambiental a futuras obras no Estado, reduza o número de análises pendentes. Ao mesmo tempo em que prometeu equipar a Fepam com mais recursos materiais e humanos, a governadora deu sinais de que não hesitará em fazer mudanças na área ambiental.

(Ney Gastal é jornalista e ambientalista, o texto está circulando em diversos grupos de discussão na Internet, 18/04/2007)

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