A pesquisadora Allegra Viviane Yallouz, do Serviço de Desenvolvimento Sustentável do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), instituto vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, desenvolveu uma tecnologia inovadora para identificar a presença do mercúrio em peixes – a ingestão de alimentos contaminados é uma das principais formas de intoxicação humana pelo metal.
Seguindo recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), o método, que leva o nome de sua idealizadora, determina a concentração do metal nos peixes e os classifica como próprios para consumo freqüente, consumo eventual ou impróprios.
A metodologia utiliza materiais de laboratório de fácil manipulação, como balão de Erlenmeyer, bomba de aeração e papel detector, e pode ser operado por qualquer pessoa após um treinamento prévio. Os testes, que custam R$ 10 cada, são feitos por meio de um kit que contém todo o material necessário para a realização das análises.
“Entre as diferentes formas em que o mercúrio pode ser encontrado no meio ambiente, o metilmercúrio presente na carne dos peixes representa um grave problema de saúde pública por afetar o desenvolvimento motor dos indivíduos”, disse a pesquisadora.
Indicado para testes de triagem em qualquer espécie de pescado, o método Allegra é dividido em três etapas: pré-tratamento, determinação e comparação visual. A primeira tem como função liberar todo o mercúrio de uma amostra de peixe para uma solução analítica formada por uma mistura ácida oxidante, composta basicamente de ácido sulfúrico (H2SO4) e ácido nítrico (HNO3). A solução é aquecida por cerca de uma hora até a carne do peixe ser dissolvida.
Na fase de determinação, a solução é acrescida de cloreto estanoso (SnCl2) e ácido clorídrico (HCℓ). O vapor da solução é forçado a passar por um papel detector que indicará a concentração de mercúrio da solução analítica. A coloração do papel é então comparada com uma escala de cores de referência da OMS, que varia de zero a mil nanogramas de mercúrio por grama de peixe (ng/g).
“Peixes que tenham uma concentração de até 300 ng/g são considerados próprios para consumo freqüente e, de 300 a 600 ng/g, para consumo eventual. A comercialização do pescado é permitida em concentrações de mercúrio que vão até 1.000 ng/g. Se o teor de mercúrio passar de 1.000 ng/g, o peixe fica impróprio para consumo”, explica Allegra.
Outro ponto que deve ser levado em conta é a freqüência de consumo da população. “O mercúrio afeta o ser humano de forma gradativa e cumulativa. Às vezes são necessários mais de 15 anos para aparecerem os primeiros sintomas de intoxicação”, disse.
Segundo a cientista, para as populações ribeirinhas do Pará, por exemplo, que têm nos peixes a principal fonte de energia, o nível de tolerância na escala de concentração de mercúrio deve ser menor. “Para quem come muito peixe, o ideal é que a concentração de mercúrio não passe de 300 ng/g”, afirmou.
Allegra difunde o método por meio de cursos na Escola de Produção e Trabalho do Pará, em Itaituba, e no Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará (Cefet), em Belém, ambas no Pará.
O objetivo é capacitar agentes para a aplicação da metodologia em cidades que tenham histórico de contaminação pelo metal devido à prática do garimpo, localizadas principalmente nos estados de Minas Gerais, São Paulo e alguns estados da região amazônica. Mais informações: www.cetem.gov.br
(Por Thiago Romero,
Agência Fapesp, 19/04/2007)