Caracterizada por secas freqüentes e por concentrar alguns dos municípios de menor desenvolvimento humano do Brasil, a Caatinga desponta agora como um pólo atrativo para investimentos privados e de governos estrangeiros. Principalmente nos setores de agropecuária sustentável, extração e ecoturismo, a região oferece biodiversidade rica e alguns incentivos fiscais e facilidades de crédito.
O assunto será um dos temas da Semana da Caatinga, que acontece entre 23 e 26 de abril, na sede da Embaixada da Suíça, em Brasília, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O evento visa chamar a atenção para a diversidade ecológica e cultural da Caatinga, mostrar a particularidade do ecossistema e torná-lo mais conhecido, no Brasil e no mundo. A Caatinga ocupa cerca de 850 mil quilômetros quadrados, engloba mais de 1,2 mil municípios e abriga cerca de 28 milhões de habitantes.
“O evento vai mostrar todas as potencialidades da Caatinga e incentivar o desenvolvimento sustentável”, afirma Alexandrina Sobrera, presidente do Conselho Nacional da Biosfera da Caatinga e uma das conferencistas da Semana da Caatinga. A iniciativa é voltada principalmente para empresários e governos estrangeiros que, de olhos nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, têm interesse em investir na região.
A Caatinga já colabora com a economia do Nordeste em vários setores. O principal é o fornecimento de lenha como matriz energética — cerca de 30% da energia nordestina vêm da lenha, extraída da região. Segundo o engenheiro florestal Francisco Campello, um dos técnicos do projeto do PNUD ligado à Caatinga, “a lenha é uma fonte de energia renovável, mais barata, de tecnologia relativamente simples, o que pode incentivar investimentos nessa área”. Estudos realizados nos últimos 20 anos mostram que a Caatinga tem potencial para atender a demanda por energia dos setores industrial e comercial, sem comprometer a sustentabilidade do bioma. Segundo Campello, hoje se tem conhecimento técnico para explorar a extração de forma responsável, com regulamentação já definida e fontes de financiamento específicas, principalmente no Banco no Nordeste.
A pecuária também é um setor atrativo para investimentos, pois a região fornece forragem natural para os rebanhos em criação extensiva. “Todas essas atividades têm de ser desenvolvidas de forma consciente, para não agredirem o ecossistema e garantir o desenvolvimento sustentável da região”, adverte Campello. Do mesmo modo, a Caatinga tem potencial para receber investimentos em apicultura, pois o ecossistema garante diversas floradas por ano, abriga diferentes espécies de flores e abelhas, o que permite extrair vários tipos de mel.
Na agricultura, a Caatinga possibilita o plantio em sistema agroflorestal, nos quais as culturas agrícolas podem ser plantadas entre a vegetação nativa. Isso, segundo Campello, “assegura a conservação da biodiversidade, contribuindo para aumentar a capacidade produtiva do solo, com adubos orgânicos e sombreando a plantação”.
A Caatinga também fornece produtos não-madeireiros, como sementes, frutos, látex, plantas medicinais e artesanato, desenvolvidos, principalmente, a partir de fibras naturais. “As próprias comunidades fabricam e extraem os produtos, de forma atenta ao meio ambiente, e o comércio gera renda para eles”, afirma Campello. Segundo Alexandrina, a região é rica em matérias-primas naturais para medicamentos, cosméticos e em ingredientes para gastronomia — o que também pode atrair investimentos no setor.
Ecoturismo é outra área com grande potencial na Caatinga. “A construção de pousadas pode ser um bom investimento, uma vez que a região tem vários parques ecológicos que recebem muitos turistas, principalmente estrangeiros”, afirma Alexandrina. Parques como a Serra da Capivara, Chapada Diamantina, Floresta Nacional do Araripe e Vale do Catimbau, que têm estrutura para turismo, permitem que o visitante tenha contato com um bioma único no mundo, rico em belas paisagens e em escavações arqueológicas.
Uma das iniciativas relacionadas ao ecoturismo que têm produzido efeitos positivos no desenvolvimento social é o turismo rural. Os pequenos produtores recebem em suas fazendas um grupo de visitantes, que tem a oportunidade de conhecer a rotina do local e as belezas da região.
(Por Sarah Fernandes,
Agência PNUD, 18/04/2007)