O Rio Grande do Sul registrou mais um conflito por terra nesta quarta-feira (18/4). Em São Gabriel, a Polícia Militar bloqueou uma marcha do Movimento Sem Terra (MST) e, no confronto, pelo menos um policial e um trabalhador rural saíram feridos. Sem terra foram presos e, segundo denúncias do MST, a polícia agiu com violência.
O fato aconteceu pela manhã, na RS 630, estrada que dá acesso aos 13.222 hectares da Fazenda Southall, reivindicada pelo MST. Os sem terra desejavam marchar até a entrada da fazenda, para realizar uma manifestação, quando a Brigada Militar bloqueou a passagem, como relata Ivanete Tonin, do MST.
“A previsão era marchar nove quilômetros até a entrada da Fazenda Souhtall, onde iríamos realizar um ato público e avaliar os próximos passos. Quando chegamos ao acampamento, a Brigada Militar cercou o nosso grupo e iniciou um processo de tiroteio, tiros para o alto, bombas de efeito moral, e os soldados avançaram sobre nós, com espadas, quando ocorreu o ferimento do Edvaldo”, afirma.
O sem terra Edvaldo Martins foi ferido na cabeça. Ele registrou a ocorrência na delegacia de polícia local. O capitão da Brigada Militar, Aníbal Silveira, que comandou a operação, alega que havia uma determinação judicial para escoltar a marcha, que partiu da cidade, até o acampamento do MST. Quando os sem terra manifestaram interesse em prosseguir, a polícia interviu.
“Na realidade, nós tínhamos a determinação judicial que era para escoltá-los até o acampamento deles na RS 630. Quando chegaram no local, quiseram ir até a Fazenda Southall, aí fizemos este barramento, e foi neste momento que eles investiram contra a Brigada Militar”, afirma.
Na última segunda-feira, também em São Gabriel, um agricultor foi espancado enquanto distribuía panfletos do MST na cidade. Na semana passada, um sem terra foi baleado e espancado em Coqueiros do Sul, região norte do Estado. Ivanete Tonin, do MST, vê os casos com preocupação.
“A situação é bastante preocupante, porque até o momento a Reforma Agrária vem sendo tratada apenas como caso de polícia. Não estamos percebendo, por parte dos governos federal e estadual, alguma manifestação em torno de um programa de Reforma Agrária. E isso é preocupante, porque de um lado os fazendeiros nos perseguem e do outro, a Brigada Militar, o que demonstra claramente que o governo Yeda está a serviço de latifúndios como o do Southall”
Até o final da tarde desta quarta, a informação é de que oito trabalhadores haviam sido presos. Integrantes do MST denunciam que a Polícia Militar agrediu trabalhadores rurais na RS 630. O juiz da cidade se dirigiu até o local no final da tarde.
O MST reivindica a desapropriação da Fazenda Southall, onde poderiam ser assentadas cerca de 600 famílias. De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a área tem danos ambientais e pode ser desapropriada.
(Agência Chasque, 18/04/2007)