Florestas tropicais estão sendo derrubadas e queimadas para dar lugar a plantações de soja e palma, destinadas a gerar biodiesel para os motores europeus, disseram ambientalistas na quarta-feira (18/04). Eles citaram casos no Brasil, na Indonésia e na Malásia, pedindo providências aos respectivos governos. "No Brasil, uma das áreas mais afetadas é o Estado de Mato Grosso, onde vastas áreas desapareceram para dar espaço para lavouras de soja destinadas à exportação", disse a ONG Ecologistas em Ação, num relatório distribuído durante uma cúpula de biocombustíveis em Madri.
ONGs ambientais pediram à União Européia que não adote a adição obrigatória de biocombustíveis nos combustíveis do transporte, como parte dos seus esforços para conter as emissões de dióxido de carbono. "Biocombustíveis feitos de óleo de palma insustentável não são verdes", disse Michelle Desilets, diretora da Fundação para a Sobrevivência do Orangotango de Bornéu, com sede no Reino Unido.
"Desmatar florestas para a produção de óleo de palma freqüentemente envolve queimadas." As emissões de dióxido de carbono, pela queima de matas indonésias, podem facilmente superar as emissões que os motoristas europeus produziriam queimando combustíveis fósseis ao invés de usar biocombustíveis, acrescentou ela. Defensores dos biocombustíveis dizem que eles são uma ferramenta importante contra o aquecimento global, pois substituem combustíveis fósseis, que geram dióxido de carbono, e são feitos de plantas que absorvem carbono ao crescer.
A UE tem sobras na sua produção de grãos, que poderiam ser usados para a produção do etanol adicionado à gasolina, mas não cultiva sementes oleaginosas em quantidade suficiente para abastecer, com biodiesel, os motores a diesel derivado de petróleo, que são maioria no continente. As usinas de biodiesel, que proliferam rapidamente, precisariam importar milhares de toneladas de soja brasileira e de óleo de palma da Indonésia e da Malásia para atenderem à meta da União Européia, de que o biodiesel represente 5,75% do combustível de transportes até 2010. Os ambientalistas pediram à UE que desista dessas metas.
"Elas vão incentivar lavouras que têm impacto negativo nas emissões de gases do efeito estufa, provocam o desmatamento e destroem a biodiversidade", disseram eles em carta aberta aos participantes da conferência. A Comissão Européia está ciente dessas questões e prepara um esquema com incentivos para quem produzir biocombustíveis de forma sustentável, disse Signe Ratso, diretora de transportes da Comissão. "O esquema deve estar em vigor até 2010."
(Por Julia Hayley, Reuters, 18/04/2007