A água gerada a partir da manipulação da mandioca pode ser usada em fertirrigação e também ser transformada em energia.Brasília - Aproveitar os resíduos da produção e gerar co-produtos é uma forma de baixar os custos e resolver problemas ambientais. Essa questão já está sendo colocada também para a mandiocultura. Trata-se do aproveitamento das águas geradas a partir da manipulação da mandioca.
A professora e pesquisadora Marney Pascolli Cereda da Universidade Católica Dom Bosco, em Campo Grande (MS), conta que a mandioca tem 60% de água e gera três tipos diferentes de resíduos: a manipueira, água da prensa da raiz; a água vegetal, que é a soma da manipueira com a água de lavação da massa, produzida em fecularias; e a água de lavação e raspa das raízes.
“Os pequenos produtores podem se beneficiar bastante ao utilizar esses resíduos”, diz Marney. Ela explica que há pouco estudo sobre o assunto, mas já participou de pesquisa que aponta soluções simples para o uso das águas da mandioca.
A água vegetal, por exemplo, pode ser usada em fertirrigação, uma irrigação com nutrientes. Outro uso, mais sofisticado, é o aproveitamento da água da mandioca na produção de energia. Nesse processo, o equipamento chamado biodigestor, usa parte do açúcar presente nessa água para produzir metano, um gás combustível. “Esse gás poderia ajudar na secagem da farinha e eliminar a lenha do processo”, ressalta. A solução também é importante para o meio ambiente porque reduziria a liberação do metano no ar, o que afeta o aquecimento global.
Em Santa Catarina, Enilto de Oliveira Neubert da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri) coordena um projeto de mandiocultura. Ele conta que fez vários testes com os produtores de mandioca da região para aproveitar a água vegetal da mandioca como forma de irrigação da lavoura. “A gente precisava saber a quantidade de água que o solo poderia receber sem que os lençóis freáticos fossem atingidos”, explica.
Depois de muita pesquisa, o projeto já é colocado em prática por alguns mandiocultores. O proprietário da Fariman, Salésio Delfino, já adotou essa cultura como rotina em sua produção. “Começamos a aproveitar essa água no ano passado e o resultado é muito bom”, diz.
Segundo Salésio, quando a água é utilizada de forma controlada, ela serve como fertilizante para o solo. “Com a água da mandioca, o rendimento da minha colheita aumentou e a área de pastagem também ficou melhor”, conta.
O aproveitamento e tratamento dos resíduos da mandioca será um dos temas debatidos por gestores de projetos da carteira de mandiocultura do Sebrae. Eles estarão reunidos, de 18 a 20 de abril, em Salvador (BA). Na ocasião, assistirão à palestra da professora Marney Pascolli sobre o assunto.
(Por Giovana Perfeito,
Agência Sebrae, 16/04/2007)