A interferência das mudanças climáticas na biodiversidade brasileira é uma das preocupações de um grupo de pesquisadores envolvidos no Projeto Gradiente Funcional, coordenado pelo professor Carlos Alfredo Joly, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp/SP). Convidado a proferir uma palestra sobre o tema, na terça-feira (18/04), Joly falou a alunos dos cursos de graduação e pós-graduação em biologia sobre a necessidade de buscar novas ferramentas para conseguir aperfeiçoar o planejamento de conservação da biodiversidade para o futuro. “Precisamos começar a colocar essas variáveis de aumento de temperatura, mudança de precipitação, temperatura, distribuição da chuva ao longo do ano para ter modelos que permitam prever a situação das populações”, enfatizou. A palestra teve como objetivo oferecer dados e resultados de pesquisas destinadas a entender o funcionamento de florestas complexas como a Mata Atlântica.
Uma iniciativa de agências de fomento no sentido de recuperar e digitalizar registros históricos de temperatura e material biológico, ao longo de mais de cem anos, permitiria identificar mais rapidamente as causas e as conseqüências das mudanças climáticas na biodiversidade. “Infelizmente ainda não compreenderam a importância de digitalizar esses registros”, acrescentou. Ele explicou que as florestas temperadas da Europa e dos Estados Unidos são mais simples que as brasileiras, por isso os estudos são realizados há décadas. “Mas a Mata Atlântica é mais complexa. Não temos informações anteriores. Estamos gerando informações no mesmo tempo das mudanças, o que torna mais complexo saber o que é causa, conseqüência e qual o desencadeamento dessas coisas. Se tenho um bom estudo que mostra que no começo do século que o período de floração de uma determinada espécie era em outubro e agora eu vejo que essa espécie está florescendo dois meses antes posso fazer demonstração, mas preciso dessa informação”, explica.
Joly explica que, para conhecer o funcionamento como um todo, os pesquisadores partem de alguns componentes, como a florística – para saber das espécies que ocorrem –, a biologia de cada uma das espécies, quando florescem, como é a germinação, quando frutificam, como é o crescimento de cada indivíduo e a dinâmica de reprodução de cada indivíduo na floresta. “É um sistema complexo, mas precisamos estudar alguns componentes para entender o todo.”
O professor acrescentou que, apesar das limitações, todo modelo é ferramenta a mais para a indicação de alguns aspectos que podem começar a ser usados hoje. “Se indicar algumas espécies que são vulneráveis, vamos a campo ver como está a população dessas espécies hoje”, explica.
(Por Maria Alice da Cruz,
Jornal da Unicamp, 18/04/2007)