A anunciada greve dos funcionários da Emdurb atingiu apenas o serviço de coleta de lixo, parcialmente. No primeiro dia, a paralisação deixou sete setores sem coleta. Ao todo, 59 bairros ficaram com o lixo do final de semana acumulado nas calçadas. Os funcionários dos demais setores da Emdurb, como varrição, trânsito e fiscalização dos estacionamentos rotativos do Centro, não aderiram. O movimento continuou ontem (17/04).
Segunda-feira (16/04), apesar da greve ter sido tranqüila durante o dia, no início da noite houve tensão entre dirigentes do Sindicato dos Servidores Municipais (Sinserm) e da Emdurb.
Pela manhã, dos 13 setores previstos, três não foram atendidos. Os principais bairros atingidos foram Núcleo Fortunato Rocha Lima, Parque Jaraguá, Pousada da Esperança 1 e 2 e Vila Industrial. Durante a tarde, apenas um setor - o que abrange o Estoril 4, Vila Ferraz, Jardim Paulista, entre outros - ficou sem coleta.
No início da noite, quando seis setores são atendidos, houve princípio de confusão entre Emdurb e Sinserm. Enquanto a empresa municipal afirmava que os sindicalistas estavam pressionando os funcionários a aderir à greve, o Sinserm alegava que a presença do presidente da Emdurb, Carlos Barbieri, coagia os coletores e motoristas que queriam participar.
Depois da tensão, o dirigente da empresa afirmou estar emocionalmente abalado. “Estamos tentando fazer algo organizado, e os membros do sindicato passaram a me ofender pessoalmente. Não fui tratado com respeito”, diz Barbieri. De acordo com ele, os grevistas desrespeitaram acordo firmado na última sexta-feria entre a Emdurb e o Ministério Público do Trabalho (MPT), que definiu em uma mesa-redonda a garantia de 100% da coleta de lixo hospitalar e pelo menos 50% dos trabalhadores da coleta urbana durante a greve.
“Eu estava lá para garantir que quem quisesse trabalhar teria condições. Como começaram a me ofender pessoalmente, agora só negociamos através de adovogados”, diz Barbieri. Já os dirigentes do Sinserm classificaram o embate como discussões normais que existem durante greves e negaram veementemente que teriam impedido o abastecimento dos veículos. “De forma alguma impedimos qualquer caminhão de abastecer”, garante Sônia Carvalho, diretora do sindicato.
Ela avalia que a permanência do representante da Emdurb no local acabou coagindo os coletores e motoristas. “Só a presença do chefe olhando, deixa os funcionários cosntrangidos”, observa Carvalho.
Mesmo com a discussão, o acordo com o MPT de manter pelo menos 50% da coleta foi cumprido. Das seis equipes que sairiam ontem, três permaneceram paralisadas. Porém, por conta de um acidente - um coletor cortou a perna após recolher um saco de lixo com cacos de vidro não embalados corretamente -, mais um setor acabou ficando sem o serviço. Os princpais bairros não atendidos ontem à noite foram Vila Falcão, Vila Pacífico, Vila Industrial, Jardim Rosa Branca, Vila Cardia e Jardim Cruzeiro do Sul. Por conta do acidente de trabalho, também foi afetado o setor da Vila Souto.
Números e vitóriasNo final do dia, dos 22 setores previstos na greve, apenas sete ficaram sem atendimento, ou seja, menos de um terço. Pela manhã, com 15 funcionários em greve, a Emdurb divulgou que 2,6% dos 578 empregados tinham aderido. Já para o Sinserm, como o movimento visou a coleta, que mantém 94 funcionários, esse percentual foi maior.
Mas para José Roberto Batista, do Sinserm, a greve teve boa adesão. Ele destaca que os grevistas tiveram duas virórias ainda ontem. “A primeira foi o agendamento da audiência em tempo recorde”, avalia. O encontro entre Emdurb e Sinserm está previsto para hoje, em Campinas. A outra vitória contabilizada por Batista foi o anúncio do governo Tuga Angerami sobre a compra e locação de caminhões para a coleta.
ReivindicaçõesOs funcionários da Emdurb justificam a necessidade da paralisação por se sentirem discriminados com a proposta de reajuste salarial feita pela administração, além de cobrar melhores condições de trabalho. O governo municipal se recusa a repassar o reajuste salarial integral de 6,21% concedido aos demais funcionários, alegando que os trabalhadores da empresa não têm o desconto da Fundação de Previdência (Funprev). Assim, a prefeitura oferece apenas 3,12% de reajuste mais o índice de 21,21% sobre o vale-alimentação, que passou para R$ 160,00.
Sem controleO controle da frota e dos trabalhadores que saíram ontem às ruas foi outra dificuldade apontada pelo Sinserm. Nas greves anteriores, a entidade dispunha de uma relação de veículos e coletores atuando no serviço essencial. “O portão estava lacrado e eles (os coletores) foram entrando”, comenta a diretora Eliana Martins.
O presidente da Emdurb, Carlos Barbieri, no entanto, garante que os sindicalistas também tiveram acesso ao pátio da coleta e conversaram com os funcionários.
“Não é uma questão de salário. É também de condição de trabalho. A gente chega às 7h e não tem caminhão até as 15h. Se a gente marca compromisso para depois desse horário (e não vai para as ruas), colocam a corregedoria atrás. Mas nosso horário já terminou”, comenta um coletor que pediu para não ser identificado.
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Jornal da Cidade, 17/04/2007)